Colunistas ||| Fique atento à liquidez de suas ações
Boa parte dos investidores, quando se lançam ao mercado de capitais, costumam prestar atenção apenas na lucratividade histórica dos papéis e usam esse argumento como única motivação para as compras. Raros são os que se preocupam em analisar um fator de vital importância na hora de escolher os ativos que irão compor suas carteiras: o fator liquidez. Chamamos de liquidez a capacidade que uma ação possui de ser negociada rapidamente, ou seja, sua preferência perante o mercado, o fato de existir uma quantidade considerável de investidores interessados em comprá-la.
Esse fator é importante porque você terá que vendê-la para obter o tão almejado lucro, ou precisará se livrar dela, caso o mercado não se desenvolva como você previa. Em ambos os casos, se não houver compradores interessados, você estará em apuros e ficará com esse papel “encalhado” em sua carteira. Esse fator passa despercebido por muitos investidores pelo fato de estarem habituados a negociar blue chip’s, que nunca apresentam problemas com liquidez. Isso faz com que se descuidem na análise desse fator. Na verdade, nem todos os papéis vendem com tanta facilidade como Vale, Petrobrás ou Bradesco.
O curioso é que a falta de liquidez nem sempre está associada a ações de empresas pequenas ou que possuam indicadores desfavoráveis em seus balanços. É possível encontrar papéis de baixíssima liquidez em grandes empresas, que exibem números muito significativos em seus balanços e cujos setores de atuação são altamente lucrativos.
Por que isso ocorre, então? Talvez porque os acionistas formem um grupo fechado, que esteja interessado realmente em possuir e administrar a companhia, e não apenas em negociá-la na bolsa, como fazemos nós, os pequenos investidores. Na verdade, não importa saber qual a razão para a falta de liquidez. Importa apenas saber que ela representa um alto risco para o capital investido num ativo com essa característica.
Além disso, o fato de existirem poucos negócios por dia ou até intervalos de vários pregões sem que ocorra nenhum negócio, gera um outro problema: a distorção de indicadores técnicos e a interpretação equivocada de gráficos. Cálculos estatísticos requerem uma quantidade mínima de valores para que seu resultado seja confiável, caso contrário, a resposta do indicador poderá ser uma armadilha.
Algum tempo atrás, um de meus leitores enviou um e-mail perguntando qual período eu considerava mais interessante para análise de candles, no intraday. Minha resposta foi a seguinte:
“Não há um período específico, isso depende do papel analisado. O ponto importante é avaliar quantos negócios acontecem dentro desse período, em média. Se uma ação tem muitos negócios por minuto (como a VALE5), num período de 15 minutos a quantidade é suficiente para gerar candles confiáveis. Vamos exemplificar: numa análise recente, a média diária de negócios da VALE5, em 30 dias, estava em 13.580 negócios. Dividindo isso por 8 horas de pregão e depois 60 minutos a cada hora teremos uma média de 28 negócios por minuto. Considerando um intervalo de 15 minutos, para análise no intraday, teremos cada candle formado, em média, por 420 negócios (o que já é um número muito bom). Se olharmos para a ETER3 que possui uma média de 62 negócios por dia nesse mesmo período, teremos cada candle de 15 minutos formado por 1,9 negócios (o que não representa nada em termos de análise), portanto, esse papel não poder ser analisado no intraday de 15 minutos, só no diário.”
Outro ponto de atenção é que alguns papéis podem apresentar picos isolados de liquidez, normalmente motivados por manobras especulativas. Um investidor desatento pode adquirir o papel durante um desses “surtos” de liquidez e, depois, ver sua carteira comprometida com um ativo de alto risco, pelo qual o mercado não se interessa mais.
Por isso, fique sempre atento à liquidez de suas ações. Papéis que tem alta liquidez hoje podem não a ter mais amanhã. É preciso acompanhamento constante. Se detectar que um papel de sua carteira está perdendo liquidez no decorrer do tempo, considere sua substituição no menor tempo possível.
Eu costumo trabalhar com uma regra própria para avaliar liquidez: se o papel não tiver ao menos uma média de 50 negócios por dia, durante o último mês, e não tiver sido negociado em pelo menos 80% dos pregões desse período, eu o desconsidero como investimento.
Carlos Alberto Debastiani é empresário, investidor e autor dos livros “Candlestick”, “Análise Técnica de Ações” e “Avaliando Empresas, Investindo em Ações”.
Avaliando Empresas, Investindo em Ações CARLOS ALBERTO DEBASTIANI | FELIPE AUGUSTO RUSSO Editora: Novatec |