Clube do Pai Rico

Por que o brasileiro é tão mal-educado financeiramente falando ?

mao no quadro-negro pq

Não, você pode ficar tranquilo que esse texto não irá se tornar um textão atacando o sistema educacional brasileiro. Até mesmo porque o principal, em se tratando de Educação Financeira, dificilmente será fornecido nas escolas: quem molda o perfil financeiro de uma pessoa, normalmente, são os pais dela. Sim. Grande parte daquilo que somos, daquilo que fazemos, em relação ao dinheiro, vem da observação de como agem nossos pais. (mas cá entre nós … não é assim com grande parte de tudo que fazemos/somos ?)

Claro, a partir do momento que uma criança (e os adultos também, por que não ?) começa a receber uma dose maciça de conhecimento e conteúdo em uma sala de aula, as coisas podem começar a mudar. Mas o reflexo da atitude dos pais, em relação ao dinheiro, está lá. Aquilo que for aprendido poderá, ou não, mudar o relacionamento daquela criança com o mundo das finanças. Muitas vezes a educação (ou neste caso, a falta dela) de casa é algo tão forte que suas raízes prendem a criança ao mesmo destino dos pais, não importando as “interferências” externas.

A reeducação é algo difícil de ser implementada. Veja uma pessoa que precisa adotar uma nova dieta para perder peso, e para tanto tenta se reeducar em relação à forma que se alimenta. Os hábitos são tão fortes que são poucos os que conseguem mudar a forma que se alimentam. Coisa parecida acontece em relação ao dinheiro … Acredite você ou não. 🙁

Onde tudo começou ?

Mas então, qual seria o real motivo para o brasileiro ser tão mal-educado financeiramente falando ? Se você respondeu “por causa da inflação” acertou. Sim. A inflação é um dos principais componentes deste nosso problema … Foram tantos e tantos anos de inflação alta, que as pessoas acabaram incorporando ao seu dia-a-dia a única forma de lidar com ela.

Qual ? Gastar seu dinheiro, o mais rápido possível, para evitar que ele perdesse valor. Exatamente: gastando tudo aquilo que você recebe, na hora em que recebe, você está se “livrando” de uma das principais consequências da inflação, que é a perda de poder de compra do dinheiro que tem em mãos.

Pense da seguinte forma: a inflação atual é de cerca de 30% ao mês. Ao receber o seu salário, você tem duas alternativas: ou gasta tudo ou gasta somente o que precisa e o restante economiza. O problema é que aquilo que você economizar dificilmente será ajustado corretamente e conseguirá vencer a inflação. Seu dinheiro vai sendo corroído por ela e no final de um período mais longo ele terá perdido grande parte do seu valor.

É … A inflação “beneficia” aqueles que gastam tudo o que têm e “penaliza” aqueles que poupam.

Portanto a atitude de grande parte da população era justamente essa: recebeu o salário ? Corra para o supermercado para fazer o rancho do mês. Garanta o poder de compra do seu dinheiro naquele momento. Não deixe nada para o dragão.

E foram anos e anos e anos com este cenário …

Mas tudo mudou … Por que a Educação Financeira não ?

Em 1994 tivemos o surgimento do real. Em 1º de julho daquele ano surgia a moeda que nos fez “esquecer” do dragão da inflação por algum tempo. Só para você ter uma ideia, nos primeiros 6 meses de 1994, até a entrada do real, a inflação acumulada era de 815,60% !!! No mês de julho ela caiu para 6,08% !! 😯

Aos poucos ela foi caindo mais e mais, até que tivéssemos índices anuais que ficavam abaixo disso.

Infelizmente nos últimos anos temos visto o dragão acordando, mas ainda muito distante do que tínhamos no passado. Por que então as coisas, em relação à Educação Financeira, não mudaram ?

“Simples” ! Nos primeiros anos após a derrubada da inflação, tínhamos um pouco de inércia atuando. Foram tantos anos adotando a mesma estratégia: usar tudo para não perder, que seria preciso um pouco mais de tempo para nos reeducarmos. Porém … quando este tempo já havia passado … surge uma política de estado que atrapalharia esta mudança.

–  “Crédito fácil para todos !! Comprem tudo e mais um pouco !!

Sim … Quando as coisas começariam a andar nos eixos, quando veríamos o poder de “não gastar tudo na mesma hora” surgindo … vem o Governo Federal e cria inúmeros incentivos para que a população use o seu dinheiro. O seu e aquele que não tem, através da obtenção de crédito.

Quando as vantagens dos períodos de baixa inflação começariam a incentivar as pessoas a pouparem, o consumo das famílias foi incentivado e, mais uma vez, a poupança (não a caderneta, neste caso me refiro ao ato de guardar algum dinheiro propriamente dito) foi boicotada.

Infelizmente … 🙁

Mais uma vez os planos são adiados

Infelizmente vemos que o incentivo à poupança, em detrimento ao consumo imediato, foi abandonado. Ela que é uma das pedras fundamentais para a Educação Financeira de um povo, foi mais uma vez deixada em segundo plano.

Quando as experiências do passado começariam a ficar apenas no passado, e uma nova geração começaria a se acostumar com uma nova realidade, uma que incentiva e traz benefícios aos que poupam, surge alguém para adiar esta mudança tão importante. Não que o consumo não seja importante. É ele que move a economia de um país. Mas o consumo desenfreado, como vimos nos últimos anos, só atrapalha num plano de longo prazo.

Um plano onde a população tem pleno poder de decisão sobre o seu dinheiro. Onde a população tem noção do poder de suas reservas e da tranquilidade que elas podem proporcionar. Uma época onde há consumo, mas controlado, respeitando as condições de cada um.

É … Parece que o Brasil só terá uma população plenamente educada (financeiramente) no futuro. 🙁

Bem … eu ao menos espero que isso aconteça no futuro. 🙂

A poupança teve em 2015 o maior volume de recursos sacados da história

E os dados que vínhamos acompanhando durante todo o ano de 2015 se confirmaram no final do ano. É oficial: 2015 entra para a história como sendo o ano onde a poupança apresentou a maior saída líquida de recursos. O valor é impressionante: R$53,5 bilhões

O que estaria por trás disso ? A crise ? A Educação Financeira ? O medo?

Vamos analisar ? 😉

A culpa é da crise

2015 foi um ano difícil. Daqueles que gostaríamos de esquecer. Praticamente todas as áreas que forem analisadas mostrarão resultados decepcionantes. Não é a hora de apontarmos culpados ou de tentarmos encontrar soluções … O que queremos é apenas encontrar algum paralelo disso com a saída da poupança. Certo ?

Desemprego. Inflação. As coisas ficando mais difíceis a cada dia … Isso reflete, na maioria das vezes, onde ? No bolso … 🙁

Sei que são poucos que têm um colchão de segurança, pleno, formado. Mas quem não tem, normalmente tem uma pequena reserva guardada na caderneta de poupança. Por menor que seja … Lembremos que ela é o “investimento” mais usado pela população brasileira. Os motivos são os mais variados, e já falamos sobre isso inúmeras vezes. Está lembrado que até mesmo indicamos o uso da poupança em algumas situações ?

São “apenas” 135 milhões de cadernetas espalhadas pelo país … “Só”. Confesso estranha este número. Afinal isso atinge quase 70% da população (sim, sei que muita gente tem mais de uma, para propósitos diferentes – ex: uma pra viagens, outra pro carro, etc etc), e sabemos que a parcela das pessoas que têm algum capital disponível para aplicar nela está bem longe disso.

Voltando. A coisa aperta, o que você faz ? Vai lá e saca aquele recurso que estava destinado para emergências. Afinal de contas esta é uma emergência. Você precisa recompor seu poder de compra de alguma forma. Sim, primeiro realizamos cortes no orçamento doméstico, mas chega um ponto onde isso não é mais possível e você precisa de outra fonte de recursos para tapar os buracos.

Pronto: a pessoa se dirige ao banco para sacar o que precisa (ou pode) para aliviar as coisas.

A população está mais educada, financeiramente falando

2015 foi caracterizado pelo “despertar”, de certa parcela da população, para o fato de que a poupança é um péssimo negócio. Que deixar seu dinheiro “aplicado” nela é sinônimo de perda. O rendimento dela é menor do que a inflação e, como você sabe, o dragão não perdoa.

Muitos foram o que retiraram dinheiro de suas cadernetas para migrarem para outras oportunidades. A mais alardeada foi o Tesouro Direto e seus benefícios reais, como títulos que te protegem da inflação e ainda garante um ótimo resultado anual. (tivemos títulos pagando IPCA + 7,5% durante o ano)

Eu juro que gostaria de dizer que este é o principal motivo para o péssimo resultado apresentado … Mas confesso que é muito difícil de acreditar que este seja realmente o principal motivo. 🙁

Você imagina quantas contas existam no Tesouro Direto ? Apenas 600 mil … (praticamente o mesmo número de pessoas que investem em ações) Uma parcela muito pequena da população … Ok, anda impede que seja uma parcela do “topo da pirâmide” … Mas isso – na minha opinião – não explicaria a história toda.

Um dia, quem sabe, poderemos dizer isso. Mas acho que ainda não é o momento …

O medo do confisco

No começo do ano um boato surgiu com força em todos os cantos: o governo federal realizaria um confisco da poupança. Adotariam a estratégia usada por Collor, para tentar segurar a inflação.

Sim, muita gente se preocupou com esta possibilidade. Muita gente mesmo … Muitos foram os que sacaram seus recursos e partiram em busca de outra oportunidade de investimento. Não foram pela desvantagem que a poupança apresenta, mas sim por medo de “perder” o que tinham ali.

Sério ! O boato foi forte. Vi gerentes de bancos estatais e confirmando a possibilidade e tirando seu dinheiro. Não sei se fizeram isso numa tentativa de influenciar seus clientes para retirar o dinheiro da poupança, migrando-o para alguma outra oferta (de preferência que ajudasse a atingir suas metas …), ou se foi realmente por medo do confisco.

Não consigo imaginar uma reprise daquilo acontecendo. A experiência foi ruim e muitos creditam parte do processo de impeachment de Collor a isso. Estando a Dilma com a corda no pescoço, ousaria ela adotar estratégia tão controversa ? Duvido …

Mas alguma coisa deixou a poupança por isso …

Resumindo

Então, com 3 possíveis causas apontadas digo: a saída líquida de capital se deve ao conjunto das coisas. Um pouco de cada. Não existe um motivo único e exclusivo.

Agora, surpreendentemente, em dezembro, tivemos uma entrada líquida de quase R$5 bilhões. 😯

Motivo para reacender as chamas da esperança ? Isso seria um sinal de que ao menos a saída estancou um pouco ? (do bolsa da população) Ou de que a galera segurou os gastos no final do ano e conseguiu destinar parte do 13º para ela ?

Quem sabe o dado referente a janeiro/16 nos ajudará a entender um pouco melhor essa informação ? 😉

Fim de ano chegando … e como foi o seu desempenho no desafio ?

E 2015 acabou. Passou rápido. Voou. Quem bobeou nem viu passar …

Quer dizer, duvido que alguém tenha a coragem de dizer que não sentiu este ano passar.  Uma crise sem precedentes, política e econômica. Mas um dia isso passa … tudo passa. 😉

Neste final de ano eu tenho uma coisa para te perguntar: como você se saiu em nosso desafio ? Conseguiu atingir as metas propostas ? Conseguiu superá-las mês a mês ? Encontrou dificuldades ? Quais ? Onde ?

Opa … você não participou do nosso desafio ? 😯

cofre porquinho

O desafio do Clube !

Para quem não está lembrado, nosso desafio tinha uma proposta bem realista. Ela levava em consideração a realidade dos fatos. Ela adotava percentuais de “reservas” que podiam se adequar a todos os perfis. Afinal de contas alguns de vocês ganham pouco, enquanto outros ganham muito.

Tendo isto em mente, a nossa proposta era a de que cada participante conseguisse reservar 1% de seus ganhos (tendo como destino seus investimentos, ou o seu colchão de segurança) a cada mês. Resumindo: no mês de janeiro, seria preciso economizar 1% dos ganhos. Em fevereiro, 2%. Em março, 3%. E assim sucessivamente.

Algo “fácil” de ser assimilado e adotado. Mas o mais importante: realista. 🙂

Dei diversas sugestões de onde cortar os gastos, todas reunidas aqui. Usou alguma delas ? Qual lhe foi mais útil ?

Umas mais fáceis de serem adotadas, outras onde o corte precisava ser feito na própria carne … Mas todas possíveis de serem adotadas. 😀

Sei que a crise pode ter atrapalhado o seu desempenho. Se bem que se você participou do desafio, pode enfrentar a mesma crise um pouco mais tranquilo, afinal já estava se preparando para gastar menos do que o normal. Já estava tentando encontrar onde era possível encontrar economia. Não é verdade ? 😉

Também sei que os últimos 3 meses, provavelmente, tenham sido os mais difíceis do desafio. Afinal de contas o seu corte agora precisou ser de dois dígitos. Mas é por isso que a proposta ganhou o nome de “desafio“.

Espero que tenha ocorrido tudo conforme o planejado. Que o processo tenha lhe sido útil. Que o resultado tenha servido para aliviar as coisas neste momento tão complicado que o país atravessa.

Mas me diga … como você se saiu em nosso desafio ?

Economizando enquanto moramos com os pais

Pergunta:

Senhores, eu tenho uma empresa de marketing digital e estou passando por um momento MUITO complicado… Estou com um rendimento de R$2300 (muito baixo) e um gasto fixo de R$1530,00 (carro, celular, ajuda em casa e outras coisas). Como posso estar economizando e acertando minha vida financeira com pouco rendimento assim?

Att,

Resposta:

Bom dia André,

Ou tem algum erro na sua informação, ou eu não consegui entender direito o seu “problema”. 🙂

Você está me perguntando como fazer para “economizar e acertar sua vida financeira” com um rendimento “pequeno” como esse ? Olha … como eu disse, ou tem algum erro nos dados fornecidos por você, ou não entendi direito o seu questionamento …

Se você vem ganhando (em um momento MUITO complicado) R$2.300,00, e tem como gastos fixos R$1.530,00 … você está tendo uma sobra de R$770,00 para investir no que quiser. Sendo que isso é quase 1/3 do que você ganha !! 😯

Se os dados estão certos, você vem fazendo algo que grande parte (a imensa maioria) da população não consegue: ter uma sobra de caixa. Ainda mais, se é isso, você vem conseguindo reservar para seus investimentos valores muito acima do que muitos conseguem imaginar em guardar. Muita gente põe um objetivo de guardar 10% do que ganha e não consegue chegar nem perto disso …

Se os dados são esses mesmo, você está com a faca e o queijo na mão. Você pode acessar diversas formas de investimento que a maioria não pode. (por exemplo, a poupança não é para você …)

Agora, se você está se referindo ao valor da renda que tem atualmente, considerando que mora com os pais (tirei esta conclusão por causa da parte do “ajuda em casa”, é isso mesmo ?), e já está antevendo a realidade futura, quando for morar sozinho … Ai sim a pergunta faria um pouco mais de sentido para mim. 🙂

Assumindo que estou partindo do ponto certo (que mora com os pais), este momento é ideal para que você faça todo o possível para preparar um belo colchão de segurança, para quando partir para a “vida real”. Pois as coisas provavelmente ficarão mais apertadas lá na frente …

Veja bem, quando moramos com nossos pais temos o nosso orçamento destinado, basicamente, aos nossos próprios gastos. Podemos fazer com ele o que bem entendermos, e isso normalmente faz com que gastemos mal. Normalmente gastamos mais do que “poderíamos”, se as outras responsabilidades financeiras da “vida real” existissem. E muitas vezes isso acaba sendo um problema … Nos acostumamos com isso e na hora que a realidade bate à nossa porta a coisa complica.

É importante aproveitar, mas é mais importante ainda preparar a base financeira de um futuro saudável e tranquilo. Claro que a expectativa é que você também possa obter um aumento na renda … Mas e se não vier ? O orçamento tem que se aproximar de algo mais real, sabe ? Por exemplo, se incluirmos os gastos com alimentação, moradia, etc etc, que não existem hoje … Como você faria ?

De novo: aproveite esta sobra de caixa para montar um colchão de segurança bem parrudo. Este é o momento ideal ! Se puder, tente enxugar seu orçamento para algo mais próximo do real (incluindo os gastos que não tem hoje e que terá mais a frente), com isso poderá precisar cortar alguns gastos que tem atualmente …

Agora, se você não mora com seus pais, se este é realmente o seu orçamento integral, eu sinceramente não sei qual é o problema em questão … 🙂

Como disse, é algo que grande parte da população brasileira nem imagina o que seja … 🙁

Se o seu problema não tem ligação alguma com o que eu falei, ajude-me a entender melhor o que está acontecendo. 🙂

Abraços !

Contrariando a tudo e a todos, eu digo: USE a poupança !

Não, não fiquei louco. Não, não quero que você perca dinheiro. Não, não quero que você veja seu dinheiro sendo devorado pela inflação … O que eu quero ? Quero falar com aqueles que veem na caderneta de poupança a sua única alternativa de investimento.

Sim meus amigos … vivemos num país rico, com uma enorme falha na distribuição de renda. Muitos têm pouco (ou nada), e alguns sortudos têm muito. Para você ter uma ideia, apenas 2% da população tem um patrimônio superior a U$100 mil dólares. (por que em dólares ? não sei … foi assim que fizeram a pesquisa)

Você consegue imaginar quantas são as pessoas que conseguem destinar R$500,00 mensais aos seus investimentos ? Vou ainda mais fundo: quantas são as pessoas que conseguem direcionar R$100,00 do seu orçamento para investimentos ? Sim, um grupo restrito … por menor que esta quantia possa parecer pouco para você. R$100,00 é mais do que 10% do salário mínimo !! Sabia que 60% da população vive com menos de um salário mínimo ? 😯

Alternativas ao investimento em poupança

O universo de alternativas é grande: CDB, Tesouro Direto, fundos de investimento, LCI, LCA, ações, etc etc etc. Mas destes, quais são os que permitem que alguém que deseje investir menos de R$100,00 tenha acesso ? Somente o Tesouro Direto (aplicação mínima de R$30,00) …

O que é preciso para investir em um título do Tesouro Direto ? Uma conta em um banco, uma conta em uma corretora (pois não é todo banco que tem corretora própria, e pior … não é todo banco que “permite” que a sua corretora seja usada por seus clientes, muitas dificultam ao máximo o acesso), um conhecimento básico de como se usa um computador, um conhecimento um pouco maior sobre o uso da internet, um conhecimento sobre uma parte da matemática … Convenhamos: se muita gente que faz parte daqueles 2% que citei acima, que tem alto nível de escolaridade, familiaridade com computadores, possuiu “amplo acesso” a um banco, nunca nem cogitou investir no Tesouro Direto, como podemos “exigir” que alguém que teria essa barreira de acesso o usasse ?

Não, não estou dizendo que os 60% da população que vive com menos de um salário mínimo seja menos capaz do que o restante da população. O que estou dizendo é que a coisa é muito mais difícil para que ele tenha acesso às ferramentas necessárias para dar um passo adiante. Sim, podemos culpar a falta de educação, em “especial” a financeira … Mas não é hora de tentar apontar os culpados.

Veja bem, para quem ganha R$800,00 por mês, fazer sobrar R$50,00 é um verdadeiro martírio. Consegue imaginar como dar conta de tudo o que precisa ser feito durante um mês, com apenas R$750,00 ? Com R$800,00 já me parece “impossível” … Quem consegue fazer sobrar (por melhor administrador que seja !) qualquer coisa, ganhando apenas R$800,00, já é considerado um herói.

Pois então, me diga: como não posso indicar a poupança para essa pessoa ?!

Dizer que “não coloque seu dinheiro na poupança, de maneira alguma”, não estaria passando o recado errado para uma grande parte da população brasileira ? Não estaria dando a entender que ela, por ter pouco dinheiro disponível, e com acesso a apenas este investimento, não deveria se preocupar em investir, em formar uma reserva, em ter um colchão de segurança ?

Sim ! A caderneta de poupança é um investimento !

Não há o que discutir: por menor que seja a rentabilidade da poupança, por mais que existam alternativas a ela, para muitos esta é a única possibilidade, a única alternativa disponível. Não adianta dizermos que ela perde da inflação, que ela remunera mal o dinheiro ali aplicado, que existe uma “janela de rentabilidade” (os aniversários mensais) … Ela é a única chance de que uma grande parcela da população brasileira veja seu dinheiro “acumular e crescer”.

Portanto, sim … eu, Zé da Silva, indico a poupança para que você aplique seu dinheiro. Mas claro, indico apenas se você está incluído neste universo que citei. Se você é um dos 120 milhões de brasileiros que vive com menos de um salário mínimo por mês … Se você é um dos que consegue fazer sobrar R$10,00 … R$15,00 por mês de uma fortuna tão grande quanto R$800,00 …

Você DEVE usar a poupança, com orgulho. Você é um abençoado ! Você consegue fazer uma coisa que muita gente que ganha R$10.000,00, R$20.000,00 por mês não consegue. Sim, muita gente que ganha muito não consegue economizar um único centavo do que ganha, e ainda vive afundado em dívidas …

Mas … (sempre tem um mas, né ?) use a poupança do jeito certo ! Use-a para direcionar os valores que você consegue poupar todos os meses, por menores que sejam. R$5,00 ? R$10,00 ? Sem problema ! Deposite estes valores na poupança, sua segurança financeira agradece. 😉

Mas (esse é um mas do tipo “bom”, hehehe) assim que o valor acumulado em sua poupança for um pouco maior, parta em busca de algum investimento mais interessante, mais rentável. Você encontrará alternativas (aquelas que citei no começo do texto), provavelmente, dentro do seu próprio banco. Outros tipos de investimento, com aplicação mínima de R$100,00, R$500,00. Podem não apresentar o melhor rendimento do mundo, mas se for um pouco superior ao ofertado pela poupança, já se justifica a migração.

Lembre-se: a melhor função da poupança é servir como ponto de acumulação para uma futura migração para modalidades mais interessantes (e rentáveis) de investimento.

E de novo, se você faz parte deste grupo que citei: meus parabéns ! Você é um herói !! 😀