A dose certa
O livro começa de uma forma sensacional, 101% alinhado com o título/capa:
Em uma festa na mansão de um bilionário em Shelter Island, Kurt Vonnegut informa a seu amigo, Joseph Heller, que o anfitrião, administrador de fundos hedge, ganhou mais dinheiro em um único dia do que Heller ganhou com seu famoso romance Ardil 22 desde sua publicação. Heller responde: “Sim, mas tenho algo que ele nunca terá … eu tenho o suficiente.
Mas … É, mas. 🙄
Do nada, algo que me parecia promissor, se tornou um “combate” aos gestores malvados de Wall Street. Sim, alguém que é do ramo, que ganha por cuidar do dinheiro dos outros, xinga e reclama dos que também cuidam do dinheiro dos outros.
Infelizmente, a leitura me passou mais a impressão de querer dar destaque ao fato de que a Vanguard cobra taxas menores do que a concorrência, do que focar naquilo que interessa, falar sobre o suficiente, o equilíbrio das coisas. Bem mais da metade do livro foca nisso.
Ok … É óbvio que para o investidor, um fundo que cobra menos taxas, é melhor do que um que cobra mais taxas. Desde que a comparação seja “justa”, com a entrega de resultados semelhantes entre os dois fundos. E aqui onde ele começa sua defesa: os fundos de gestão ativa, com stock picking, com inúmeros profissionais, etc etc etc, têm apresentado desempenho inferior aos de fundos que simplesmente “espelham” índices de ações, como o SP500, por exemplo. (coincidentemente, este é o caso do principal fundo de Bogle)
Então, cobrar menos por algo que exige menos trabalho (simplesmente comprar todas as ações que integram um índice), não é nada mais do que a lógica funcionando …
O grande problema é: sim, muitos fundos cobram altas taxas para administrar o dinheiro dos outros, sem entregar resultados condizentes com aquilo. Mas … (de novo) a taxa de administração em si não é o problema. O que “encarece” é a taxa de performance.
E agora a surpresa: a taxa de PERFORMANCE só ocorre quando há resultado a ser taxado. Só quando o fundo consegue bater um determinado benchmark (indicado no momento da contratação, e aceito pelo investidor) é que tal taxa é cobrada.
Se não, fica apenas a taxa de administração …
Sim, eu sei que existe uma grande diferença de valores cobrados nesta taxa. E talvez seja o caso de haver uma revisão dela.
Como comparação, um ETF, como o BOVA11, cobra 0,3% ao ano de taxa de administração. Enquanto fundos normalmente cobram 2%. Sim, uma bela diferença … (eu sinceramente não sei dizer se nos EUA o tradicional 2%/20% é também o padrão do mercado de Fundos)
Esse não é o tipo de discussão que costumo me envolver. Acho que aquilo que te oferece um serviço premium merece ser bem remunerado. E sim, existem Fundos que trazem retornos bem superiores ao apresentado por um índice de ações puro e simples.
“Mas Zé, e o livro ?”
Sim, é uma leitura que indico. Não foi na linha que eu imaginava que seria (pensei que seria mais para o lado finanças pessoais). Mas é interessante para fazer com que o leitor reflita sobre como muitas coisas funcionam no Mercado …
Nota do Site: | A dose certa John C. Boge Editora: Elsevier |