A ilusão do grande prêmio
Existe um lado do comportamento humano que me chama bastante a atenção: a esperança. Ela é o que nos move, é o que nos alimenta, o que nos empurra pra frente. Mas ela também é responsável por nos mantermos estáticos em relação a situações que não mereciam que nos comportássemos assim …
Por exemplo: é a esperança na melhora que fez com uma grande quantidade de pessoas se agarrasse às suas OGX, vendo-as virar pó. Na verdade, foi a mesma esperança que fez com muitas e muitas pessoas entrassem nessa grande furada … (falei sobre isso no post “O poder da esperança“, de 2013)
Graças a esperança, muitos viram isso acontecer e nada fizeram:
Este é um dos lados da esperança, o de que as coisas irão melhorar. Mas não é sobre ele que quero falar …
Você muito provavelmente já tenha visto pessoas ligadas ao mercado falando sobre a forma com que os investidores deveriam se comportar. Especialmente em Bolsa …
Que ao investir em uma ação, ou em várias, a pessoa deveria ter em mente que ela está ali esperando por uma oportunidade de ouro. Que ela está ali em busca daquela empresa que irá multiplicar seu valor por dezenas, centenas, milhares de vezes. Está ali em busca do pote de ouro, do grande prêmio.
A chama da esperança é alimentada constantemente. A oportunidade de uma vida está ali, ao alcance de todos, logo ali na esquina. Uma explosão, um retorno extraordinário, algo surreal, muito além dos seus sonhos … Ou resumindo: algo quase impossível de ocorrer. Mas se acontecer, lhe renderá histórias pelo resto de sua vida. 🙄
Não existe meio termo, é 8 ou 80. E esse pensamento é bem representado por muitas estratégias envolvendo opções, por exemplo. Estratégias que se baseiam em investimentos pequenos, facilmente suportados pelo bolso do investidor, e que se perdidos não farão falta.
Dizem que o investidor poderá tentar diversas vezes. 1, 2, 5, 10, 20 vezes … até o momento em que acerta em cheio. Até o momento em que encontra o pote de ouro, o grande prêmio. Mas, até lá, ele vai perdendo … e perdendo … e perdendo.
Pouco, é verdade. Mas o que aquele investidor conhecerá, por um bom tempo, serão apenas derrotas.
Será que alguém consegue sobreviver ao longo prazo desse jeito ?
Penso em um atleta, que sonha em se tornar profissional. Será que ele suportará anos e anos e anos sem conhecer a vitória, sem ganhar nenhuma premiação, sem experimentar o gostinho da conquista, apoiado apenas na promessa de que no futuro, com a insistência destinada aquilo, ele terá a chance de ganhar ?
Será ?
Será que aquela série “sem fim” de derrotas não fará com que o atleta desista de tudo ? Será que a série de derrotas não fará com que abandone o seu sonho ? Será que as perdas sucessivas não irão minar, não irão detonar o lado psicológico dele ?
…
Será que o mesmo não ocorrerá com esse investidor que acredita na promessa de que algo inacreditável virá em um momento futuro ?
Será ?
Por menores que sejam as perdas, a sequência de derrotas vai diminuindo a confiança de que aquilo um dia virá a funcionar …
E ao pensar nisso, eu pergunto: não seria muito mais lógico adotarmos uma estratégia que te possibilite ganhar na grande maioria das vezes, valores mais realistas (mas considerados altos para a maioria dos outros envolvidos) ? Não seria muito mais interessante para a longevidade desse investidor, uma estratégia que lhe mostrasse o sabor da vitória constantemente, e que ao somarmos os resultados obteríamos algo parecido com aquela “explosão” prometida ?
Será que o sentimento de esperança que existe dentro de nós é mais forte do que o lado lógico da coisa ? 🙁
É mais fácil você mover uma tonelada de açúcar, com seus braços, de uma vez só, para o outro lado do depósito. Ou carregar a mesma tonelada em quantidade menores, “de punhado em punhado” ?
Pode até dar mais trabalho … Mas carregando aos poucos a tarefa é ao menos possível. 😉
Ficar acreditando que será possível levantarmos aquela tonelada de uma só vez, ao invés de ir realizando a tarefa aos poucos … não acaba fazendo com que a pessoa desista de tudo em um determinado momento ? Sendo que se tivesse feito o transporte aos poucos, provavelmente já teria terminado.
A mesma analogia serve para o mundo dos investimentos. Não seria muitos mais lógico realizarmos diversas operações, com ganhos factíveis, ao invés de ficarmos na expectativa daquela grande promessa, daquele grande prêmio, que nem se tem certeza de que virá ?
Não seria mais interessante uma estratégia que te oferece ganhos constantes e que podem ser mantidos e conquistados, por um longo período de tempo ?
Sim, foi pensando desta forma que desenvolvi o método Double PUT Double CALL. Operações que oferecem rendimentos acima da média, mas longe das promessas de milagre de duplicação diária de pães e peixes que vemos sendo ofertadas no mercado.
Ou o poder que a esperança exerce sobre nós é tão grande que acaba destruindo todo o nosso lado lógico, dando prioridade às promessas ?
Na sua opinião, o que faz com que um investidor dê preferência por algo que promete a multiplicação “instantânea” do capital ao invés de algo que lhe permite colher belos frutos por muito e muito tempo ?