Colunistas ||| A Lei de Murphy e as Finanças
Você deve estar se perguntando: qual a relação entre a Lei de Murphy e as finanças. Primeiramente, Edward Alvar Murphy Jr. (1918 – 1990) merece todo crédito e respeito pela sua lei visto que foi “sua primeira vítima”. Murphy, engenheiro aeroespacial norte-americano, em 1949 participou de um projeto no qual os oficiais conduziram os testes para determinar o quanto um ser humano poderia resistir à força da gravidade. Para isso, Murphy levou um conjunto de sensores capazes de medir a quantidade exata de força, tornando os dados mais confiáveis. Na hora dos testes ocorreu uma “pane” e o aparelho não funcionou. Ao inspecioná-lo, Murphy descobriu que seu assistente havia invertido a conexão de todos os sensores. Foi então que ele exclamou: “se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará”.
Da mesma forma, a Lei de Murphy atua continuamente em nossas finanças. “Se alguma dívida (inesperada) pode aparecer, ela aparecerá da pior forma possível e no pior momento”. Você, com certeza, já passou por uma situação semelhante a esta. Uma multa que apareceu quando a “grana” do mês já tinha acabado; o carro que chegou da revisão e, de uma hora para outra, parou de funcionar; um acidente de trânsito não grave o suficiente para acionar o seguro, e nem leve o suficiente para não precisar de um reparo; um problema na parte elétrica da casa que fez você chamar urgentemente um eletricista; uma enfermidade que você pensava ser passageira deixou um rombo no seu orçamento com a quantidade de remédios que teve de comprar; e tantas outras situações. Enfim, ninguém está livre desses “casos e acasos”, o que remete a importância do meu primeiro post e o tema deste artigo: Reserva de Emergência.
O tema é tão relevante e tão extenso que seria possível escrever um livro. Fazer uma reserva de emergência não só é sinal de inteligência como também de prudência. Como o próprio nome já diz a emergência não manda recados, é algo inesperado, imprevisto ao qual você não se preparou e não conseguiu evitar. Contudo, constituindo uma reserva de emergência, você poderá minimizar o impacto que este incidente, ou acidente, poderá causar.
Quando qualquer imprevisto acontece, a primeira atitude, de uma forma geral, é recorrer ao cheque especial. É fácil, prático e rápido, certo? Errado. Este dinheiro não é seu, e esta falta de planejamento financeiro terá um alto preço. Não há milagres no mundo financeiro, quanto mais fácil o crédito, mais caro será o débito, ou seja, quanto mais fácil e rápido este dinheiro estiver disponível a você, maior será a carga de juros que você pagará. As instituições financeiras torcem para que isso aconteça no pior momento e na pior hora possível. A urgência nos faz aceitar qualquer proposta, desde que o valor das parcelas, independente de suas quantidades, seja condizente com nosso orçamento. A reserva de emergência é o primeiro passo para quem quer tomar as rédeas de sua vida financeira.
Constituir uma reserva de emergência é bem mais fácil do que se parece. Independe da renda mensal, a reserva de emergência sempre deve existir, pois uma verdade é universal: “não importa qual será o acontecido, a emergência sempre será maior do que o valor que você tem na carteira”.
O primeiro passo para esta decisão será definir o montante a ser constituído. Alguns especialistas defendem a ideia de constituição equivalente ao salário de 2 meses. Outros, mais conservadores, defendem um valor equivalente a 6 meses de salário. Pessoalmente, pequenas metas em curto prazo são bem mais fáceis de conquistar, especialmente para iniciantes. Comece com uma meta de reservar um mês de salário, sem pressa e sem grandes sacrifícios. Se for muito difícil para você, poderá ir até a sua instituição financeira e solicitar que o valor seja debitado diretamente da sua conta-corrente, ou conta salário, para uma conta de investimento. Você se surpreenderá quando o dinheiro aparecer mês a mês.
Segundo passo: uma reserva de emergência não deve significar privações. A renda a ser reservada deve ser significativa, porém não deverá quebrar a rotina financeira, ou seja, deixar de comprar algo, privar-se de um lazer ou até atrasar dívidas em prol da reserva de emergência poderá trazer frustrações, seguido de uma desistência por ter o dinheiro e não realizar um desejo. A reserva de emergência geralmente é constituída por aquele valor financeiro que saiu do seu bolso sem você saber como, quando e onde o valor foi gasto. Comece com pequenos valores, 5% ou 10% de sua renda é suficiente para os iniciantes. Estabeleça um percentual fixo sobre a renda, e não um valor, assim o seu depósito mensal ira aumentar de acordo com seu desenvolvimento profissional.
Terceiro passo: reserva de emergência não é investimento. O valor depositado mensalmente pode estar em alguma aplicação, mas deve estar disponível para saque de uma forma facilitada, tanto quanto foi para depositá-lo. A poupança, apesar de baixos rendimentos, possui uma enorme facilidade para saque. Há rendimentos de renda fixa que também proporcionam uma carência de poucos dias para saque, entretanto a sua emergência poderá ser em dias, ou em horas, por isso, escolha sempre o mais fácil. Você já terá um fato imprevisto para se preocupar, o saque da reserva de emergência não deverá ser outro problema.
Quarto e último passo: reserva de emergência é para emergências. Apesar da redundância, é importante ressaltar que liquidações, promoções, lazer, churrasco no final de semana ou comemoração de uma data especial, não são emergências. Fatos como estes já são conhecidos e rotineiros. A reserva deve ser utilizada em um ocorrido que você não tem controle e não pode evitar. Será como um plano de saúde ou seguro de um carro. Você faz para se prevenir, mas devido à origem da necessidade, espera nunca precisar usar.
Iniciar uma reserva de emergência é o primeiro passo para administrar suas finanças. A reserva te proporcionará um fôlego, certa calmaria mediante a tempestade e, com certeza, a frase que virá a sua cabeça quando necessitar será: “ainda bem que tive o bom senso de estar preparado”.
Quando você constituir uma reserva de emergência, saiba que estará a vários passos de muita gente. A maioria não se prepara para um imprevisto, e isso é visível quando vemos os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgado no início de 2010, mencionando que em cada 10 famílias entrevistadas, 06 estão endividadas. Na pesquisa 22% afirmaram que possuem contas atrasadas e 8% disseram que não terão como quitar suas dívidas. Não faça parte desta estatística. Quando você constituir uma reserva de emergência, estará pronto para o próximo passo: constituir uma reserva para investimentos.
Silvia Soares é graduando no curso de MBA em Gestão Empresarial, Pós Graduada em Controladoria e Finanças e Graduada em Ciências Contábeis. Atua como Analista de Gestão na maior empresa de saneamento da América Latina. Com experiência prática e acadêmica em finanças de negócios, finanças corporativas, controladoria, empreendedorismo e economia doméstica; utiliza suas experiências empresariais no ramo de Administração e Contabilidade para auxiliar a melhor maneira de dispor os recursos financeiros com a proposta de promover novas perspectivas e alternativas financeiras.