Clube do Pai Rico

Afinal de contas, qual é o custo real do barril no pré-sal ?

Esta semana vem sendo marcada pela continuidade na queda dos preços do petróleo. A casa dos $40 foi atingida (chegamos a $47 entre terça e quarta) e com isso aquela velha discussão, que foi deixada de lado por muito tempo, vem a tona: Afinal de contas, qual é o custo real do barril de petróleo obtido no pré-sal ?

Como já falei algumas vezes, este é um dos principais motivos para a queda acentuada na cotação da PETR4 (escrevi este post falando sobre o assunto, indico a leitura), e enquanto o óleo negro estiver em queda livre, a Petro não se recupera.

Lembrando o real motivo

Claro que a lógica diz que se o principal produto de uma empresa começa a ser vendido com um grande desconto, é de se esperar que o “valor” da empresa caia, especialmente no caso das commodities. Por mais que o negócio da Petrobras seja a exploração do petróleo e a comercialização de combustíveis (onde a queda traz um enorme lucro para a empresa), é de se esperar uma queda em sua cotação. Sim, todas as petrolíferas, mundo a fora, estão sofrendo com o evento.

Mas no caso da Petrobras temos um “que a mais”  … chamado pré-sal.

Todas as esperanças de um povo foram depositadas sobre o tesouro enterrado no mar, a uma enorme profundidade, que necessita de tecnologia de exploração “nunca antes usada”, que gera a necessidade de um alto investimento em equipamentos e infraestrutura para exploração e distribuição do produto.

Pois bem, já que precisamos partir do zero, um investimento elevadíssimo vem sendo necessário. Junto a isso a empresa precisou adquirir enormes linhas de crédito (dívidas) para levar seus planos adiante. Mas não tinha problema algum … os lucros do pré-sal seriam enormes, a dívida seria paga e os cofres da empresa (e consequentemente os dividendos …) estariam cheios. Claro, se o preço do produto estivesse acima do valor de custo para a obtenção do barril.

$60 ou $45 ?

Durante muito tempo a empresa (e o governo) defendeu que o custo de extração do barril girava em torno dos $60. Com o barril sendo comercializado acima dos $100 no mercado internacional, não existia problema algum. Seria um ótimo negócio, mais de 60% de lucro para cada barril vendido.

O problema é que de alguns meses para cá a cotação veio caindo … caindo … e caindo. Enquanto isso acontecia, um movimento de “deslocamento” no preço base do barril surgiu. Agora dizem que o valor correto é de $45 …

Hoje, como já foi dito, estamos na casa dos $47 … Portanto a viabilidade econômica do pré-sal é posta em xeque. Imediatamente a empresa divulga uma nota de esclarecimento, informando que não, que está tudo tranquilo, que a exploração ainda é viável, que blá blá blá. Leia o que foi dito:

Viabilidade econômica da produção no pré-sal: nota de esclarecimento

Em relação à matéria intitulada “Petróleo desaba e já é ameaça ao pré-sal”, publicada hoje, 6/1, no jornal “O Globo”, a Petrobras esclarece que está aumentando a sua capacidade de produção de petróleo e gás no pré-sal brasileiro de modo economicamente viável. A companhia informa que o break even (preço mínimo do barril a partir do qual a produção é economicamente viável) planejado no momento em que foram aprovados os projetos de produção do pré-sal, situava-se no entorno de US$ 45 por barril, incluída a tributação e sem considerar os gastos com infraestrutura de escoamento de gás. Ao considerá-los, esse valor pode aumentar entre US$ 5 e US$ 7 por barril.

Além disso, o break even já mencionado, leva em consideração uma vazão de poços entre 15 e 25 mil barris por dia. Atualmente a Petrobras produz no pré-sal a uma vazão média de 20 mil barris por dia. Alguns poços do Polo Pré-sal da Bacia de Santos têm alcançado vazão superior a 30 mil barris de óleo por dia, com efeito positivo na economicidade dos projetos. Essa elevada produtividade permitiu, por exemplo, que as unidades piloto de produção do FPSO Cidade de São Paulo (navio-plataforma operando no campo de Sapinhoá) e FPSO Cidade de Paraty (instalada no campo de Lula) atingissem a sua capacidade máxima de produção, de 120 mil barris por dia, com apenas quatro poços produtores interligados a cada uma delas.

Esse cálculo considera que todos os dispêndios dos projetos (investimentos, custos operacionais e tributação) estão associados ao nível de preços dos insumos vigente no momento da sua aprovação. É importante destacar, ainda, que os custos da indústria fornecedora de bens e serviços são, historicamente, correlacionados aos preços de petróleo no mercado internacional. Quando há redução relevante, como no caso atual do patamar de preços do barril, ela é acompanhada, ainda que não imediatamente, de uma diminuição dos custos em segmentos importantes do setor de bens e serviços. O efeito dessa redução compensa, em parte, a perda de receita ocasionada pela queda do preço do barril.

Vale ressaltar, também, que as decisões de investimento em projetos de Exploração & Produção – especialmente os destinados a águas profundas – são baseadas em cenários que incorporam uma visão de longo prazo, não só para os preços, como também para todos os demais insumos e custos dos projetos.

Alta produtividade – O enorme potencial do pré-sal pode ser avaliado pela elevada produtividade dos poços em operação. No último dia 16 de dezembro, por exemplo, a produção de petróleo nos campos operados pela companhia na província do pré-sal nas bacias de Santos e Campos atingiu a marca histórica de 700 mil barris de petróleo por dia (bpd), com a contribuição de apenas 34 poços produtores interligados a 12 diferentes plataformas – sendo oito deles produzindo exclusivamente na camada pré-sal. Esse volume foi alcançado apenas oito anos depois da primeira descoberta de petróleo nessa província, em 2006, e apenas seis meses após a companhia ter atingido a marca de 500 mil bpd, em julho.

Além disso, vêm contribuindo para o desempenho da companhia no pré-sal os resultados obtidos pelos programas estratégicos PRC-Poço (Programa de Redução de Custos em Poços) e PRC-Sub (Programa de Redução de Custos em Sistema Submarinos). Esses programas integram iniciativas que vêm incorporando melhorias contínuas na redução da duração e dos custos não só de poços, como também de instalações submarinas dos projetos de Exploração e Produção, contribuindo para aumentar ainda mais a competitividade econômica dos projetos do pré-sal. Como exemplo da melhor produtividade que vem sendo obtida desde 2010, destaca-se a redução da ordem de 60% no tempo de construção de poços dos campos de Lula e Sapinhoá, ambos no Polo Pré-Sal da Bacia de Santos.

Antes de mais nada … a impressão que me passa é de que o texto foi feito mais para confundir do que para esclarecer algo … Diz que o ponto de equilíbrio (break even) está nos $45, mas que se incluir o escoamento do gás sobe para $50 …

Só que ontem, em uma matéria publicada no Broadcast, surgiu uma informação diferente …

BOFA DIZ QUE PRODUTORES DE FORA DA OPEP PODEM RESISTIR À QUEDA NO BARRIL DE PETRÓLEO ATÉ US$ 40

Os produtores convencionais de petróleo que não fazem parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) podem resistir à desvalorização do ativo até US$ 40 por barril para cobrir custos, calculam analistas do Bank of America Merril Lynch. Embora empresas consigam aguentar um recuo maior que os preços atuais, de cerca de US$ 50 por barril, investimentos em projetos futuros já sofrem com valores baixo de US$ 70 por barril.

O BofA-ML alega que boa parte dos grandes produtores já realizaram operações de hedge ou têm se protegido com preços controlados em seus respectivos países e com alívio fiscal oferecidos pelos governos. No pré-sal do Brasil, por exemplo, os analistas dizem que é preciso um barril de, no mínimo, US$ 23 para cobrir os custos. Grandes empresas como BP, Total e Shell têm custos de capital que variam entre US$ 20 e US$ 42 por barril.

Na Rússia, os produtores que operam com alto custo têm visto a rentabilidade protegida por um declínio forte no valor do rublo e há necessidade mínima de um barril entre US$ 9 e US$ 15 para aqueles com grande base na moeda local. Por região, apenas o Mar do Norte se destaca com custos médios de cerca de US$ 48 por barril.

Os projetos futuros devem ser os principais afetados pela tendência de queda nos preços do petróleo. “Acreditamos que muitos investimentos de longo prazo deverão ser colocados em espera ao longo do próximo trimestre ou dos dois próximos semestres. Grande parte da produção mundial de petróleo bruto é desafiada abaixo de US$ 70 por barril ao longo de um ciclo de investimentos de 10 anos”, afirmaram.

A entidade ressalta que o desequilíbrio entre produção e consumo tem sido direcionado pela relutância da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em reduzir a oferta. A produção da Opep “se manteve em expansão nos últimos trimestres, a despeito da queda dos preços, ao passo que os sauditas parecem querer aumentar a participação de mercado (market share) a despeito do impacto no preço”, afirmaram. “Isso deverá criar um grande excesso de estoques, indicando riscos de deterioração dos preços.”

O BofA-ML prevê que, no curto prazo, o petróleo negociado na Nymex poderá chegar a US$ 35 por barril, enquanto o Brent poderá atingir US$ 40 por barril, antes de atrair novos compradores. O banco acredita que o barril ficará na média de US$ 64 a US$ 69 por barril.

Há operadores, no entanto, que apostam em uma baixa ainda maior. De acordo com Stephen Schork, editor da Schork Report, há negociações que chegam até a opções de venda de petróleo a US$ 20 por barril em junho, isto é, operações que dão direito, mas não obrigação, de vender contratos a um determinado preço específico.

Isso, para o Bank of America, o custo real do barril de petróleo extraído no pré-sal é de $23 … praticamente a metade do preço divulgada pela própria Petrobras. E agora José ? Em quem confiar ?

Estaria a Petrobras inovando e incluindo o lucro (de 100%) no conceito de ponto de equilíbrio ? Seria um erro puro e simples ? De qual dos lados ? …