Colunistas ||| Educação Financeira não é uma onda
Recentemente, ao participar de um debate em um evento aberto ao público, acompanhei uma discussão sobre a onda da Educação Financeira, que vem crescendo como um tsunami entre as mais diversas instituições de nossa sociedade. A certa altura, um dos debatedores propôs que essa onda aparentemente vem substituindo a ampla atenção dada, nos últimos anos, ao assunto Empreendedorismo. Como acredito que a interpretação está equivocada, trago a esta coluna meu ponto de vista, estendendo o debate a um público muito maior.
Em algumas áreas de gestão, principalmente em Marketing e Gestão de Pessoas, podemos dizer que há certos modismos que ganham grande força quando surgem, mas que vão perdendo força à medida que se popularizam e deixam de gerar efeito diferenciador. Alguns exemplos são o marketing de guerra, a gestão por objetivos, a avaliação 360 graus e a reengenharia. Porém, não se pode confundir modismos, necessários à renovação da gestão de empresas, com movimentos de esclarecimento sobre importantes áreas do conhecimento.
O brasileiro é empreendedor por natureza, fruto das duas leis que verdadeiramente conduzem nossa nação: o “salve-se-quem puder” e a “Lei de Gerson”. Os holofotes viraram-se sobre o assunto nos últimos anos simplesmente porque, após a estabilidade econômica do país, passou a ser viável empreender dentro de regras e com planos de longo prazo. Esse Brasil menos inviável descortinou um leque de oportunidades tanto para empreendedores quanto para a literatura e os programas de ensino relacionados ao assunto. Apesar de não ser mais a novidade do momento, não se pode afirmar que a onda empreendedora vem perdendo força. À medida que o Brasil se torna mais atraente para investimentos estrangeiros, melhores são as condições para empreender. Um exemplo muito claro da solidez deste assunto está no Estado de Sergipe, onde a disciplina Empreendedorismo consta do currículo oficial de ensino das escolas estaduais. Se for mesmo uma onda, ainda haverá muita gente surfando bons negócios em Sergipe durante muitas décadas.
Educação Financeira, por sua vez, é um conhecimento cuja existência não fazia muito sentido há alguns anos, quando a economia sofria com choques e mudanças de regras freqüentes. Nos tempos de inflação elevada, a regra era adquirir bens e fazer estoques, ponto. Com a estabilidade econômica, o conhecimento de finanças pessoais passou a merecer alguma atenção, pois hoje é possível acumular informações nessa área sem que se tornem descartáveis daqui a alguns meses. É isso que chamo de Inteligência Financeira; basicamente, um conhecimento que vale a pena acumular.
Certamente, grande atenção está sendo dada ao assunto, e essa atenção talvez não seja tão intensa no futuro, quando o assunto se popularizar. Porém, não acredito que será uma onda passageira, justamente por se tratar de um conhecimento que será útil pelo resto da vida de todos nós. Tivemos outras ondas semelhantes que nunca se extinguiram: a idéia de fazer cooper para melhorar a saúde, as dietas saudáveis, os protetores solares, a meditação, o auto-conhecimento e as diversas terapias que surgem, são questionadas e deixam como legado apenas o que têm de melhor. Propositalmente, citei ondas relacionadas à qualidade de vida, pois a Educação Financeira não deixa de fazer parte deste grupo. Os brasileiros estão aprendendo a se planejar e a fazer sua previdência. Em breve, muitos perceberão que isso não basta; é quando deve acontecer um grande aquecimento no mercado de seguros, demandados cada vez mais entre os que terão bons planos para o futuro, mas não abandonarão a sensação de segurança no presente. Juntamente com o setor de seguros, diversos outros setores de serviços crescerão beneficiando-se de consumidores mais conscientes, esclarecidos e bem informados. Essa é uma boa notícia para os empreendedores…
Gustavo Cerbasi – é professor dos MBAs da Fundação Instituto de Administração e autor dos livros Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos (Ed. Gente).