Colunistas ||| Enfim, apareceu o risco !
O mês de agosto brindou o mercado de capitais brasileiro com um tremendo solavanco, decorrente da onda de pânico que surgiu do colapso parcial do sistema de crédito imobiliário norte-americano. Para quem não entendeu o que aconteceu, uma breve explicação: os norte-americanos perceberam que a euforia imobiliária (bolha imobiliária, para os íntimos) elevou os preços artificialmente, a coisa ultrapassou os limites razoáveis e os preços finalmente começaram a descer; muita gente havia se endividado para comprar imóveis e lucrar com eles, e diante da impossibilidade de lucros não estão conseguindo pagar suas dívidas. “Muita gente” refere-se a pessoas físicas e grandes fundos de investimento, sendo que estes começaram um forte movimento de venda de outros ativos de risco, como ações de empresas, para equilibrar as perdas de suas carteiras de investimento.
Basicamente, o que aconteceu foi uma grande liquidação de preços de ações, em parte porque acredita-se que muitas empresas não irão lucrar tanto quanto se previa (muitos americanos quebrando = menos consumo = menos lucro), em parte porque, lucrando ou não, investidores decidiram vender papéis de risco e, para vender rapidamente, apelaram pela redução de preços.
Para muitos especuladores, foi motivo de pânico. Para investidores com visão de longo prazo, nem tanto. Se você está entre os que não sabem o que fazer durante uma crise, siga minha receita. Quando ouço uma má notícia sobre o mercado e as bolsas de valores, minha primeira reação não é ouvir a opinião de analistas de mercado, mas sim de analistas de empresas. Meus sites favoritos são os de relações com investidores (RIs) das empresas em que invisto. Ao invés de dar atenção a caçadores de suportes e resistências, prefiro ler sobre as projeções de lucros de minhas empresas, sobre o impacto da suposta crise nos negócios dos quais possuo ações. Foi essa atitude que me trouxe uma informação riquíssima: cerca de 80% dos negócios das empresas brasileiras dependem exclusivamente do mercado interno, ou seja, pouco importa se os consumidores americanos irão consumir mais ou menos. O que importa é se o brasileiro vai continuar seguindo seu ritmo crescente de consumo.
Crises como a que estamos passando – sim, ela não acabou – servem principalmente para nos lembrar o que é risco. Estive muito incomodado com o longo período de alta na Bolsa de São Paulo, por duas razões: 1) quanto mais sobe o Ibovespa, mais caras estão as ações que eu quero comprar; e 2) desde que comecei a investir em ações, sempre ganhei muito ao comprar papéis durante crises, raramente obtive grandes lucros durante períodos de calmaria. Isso se deve principalmente pelo fato de eu preferir ações de grande volume de negociação, as quais apresentam menor volatilidade em períodos de otimismo.
Posso dizer que, quanto mais dinheiro disponível tenho para aplicar, mais ansiosamente fico esperando por uma crise, pois nas crises eu compro ações a preços mais baixos. Você pode perguntar: “mas nas crises você não perde dinheiro com a baixa no preço de suas ações?”. Minha resposta a essa pergunta é: NÃO.
A quantidade de ações que eu comprei continua a mesma. Os resultados projetados de minhas empresas e seus conseqüentes dividendos continuam praticamente os mesmos. Uma queda no preço das ações diz pura e simplesmente que eu perderei dinheiro se vender as ações nesse momento, e não que eu perdi. Quem não vende não perde, continua desfrutando do crescimento da empresa.
Para quem tem dúvidas sobre o que fazer durante períodos de turbulência, minha sugestão é que comemore. Os juros continuam em queda no Brasil, o que significa muito mais do que menor rendimento nas aplicações de renda fixa; significa que o ambiente está cada vez mais favorável para que empreendedores empreendam e para que empresários invistam. O ambiente está cada vez melhor para que o consumidor busque crédito e consuma mais. O Brasil está crescendo. Para aproveitar esse movimento, você deve pensar em investir em ações. E, para começar, nada como esperar um dia de muito sol e muita queda na Bolsa – esses dias têm sido bastante comuns hoje em dia…
Gustavo Cerbasi – é professor dos MBAs da Fundação Instituto de Administração e autor dos livros Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos (Ed. Gente).