Colunistas ||| Lucro por ação ou dividendos ?
Qual empresa você preferiria ter em sua carteira de ações? Uma empresa que pagasse dividendos polpudos ou uma outra, que distribuísse apenas o mínimo exigido pela lei (25% do lucro, no caso do Brasil)? De minha parte, eu preferiria investir em empresas que não distribuíssem tanto de seu lucro na forma de dividendos (ou juros sobre o capital), mas que reaplicasse a maior parte dos seus lucros na própria atividade da empresa.
“Fábio, você tá maluco? O dinheiro dos dividendos pelo menos já me asseguraria um lucro, ao menos pequeno, sobre o investimento que eu fiz! Por que abrir mão de um dinheiro já ganho em prol de um lucro hipotético no futuro?”
O problema é que, ao pagar dividendo para os acionistas, a empresa deixa de utilizar aquele dinheiro de forma produtiva – investindo em máquinas, contratando funcionários, construindo novas lojas – isto é, investindo com o em sua atividade com o objetivo de obter lucros maiores no futuro.
Se você é um investidor de longo prazo, que tem por objetivo conquistar com o investimento em ações sua independência financeira, deve ter por objetivo comprar ações de empresas bem administradas e lucrativas. No curto prazo, boas empresas podem dar prejuízo para quem investiu nelas e empresas péssimas podem dar um bom lucro. Portanto, escrevo pensando em quem compra uma ação e pretende ficar com ela por anos a fio. E digo, sem medo de errar: não tem como ter prejuízo, no longo prazo, com uma empresa lucrativa e bem administrada. Se seus lucros são constantemente crescentes por um período considerável, isso significa que ela provavelmente sabe como investir o seu lucro.
Daí, eu pergunto: quem administra melhor o dinheiro? Você ou a empresa? Se você decidiu investir na companhia, é porque acredita em sua administração e em sua capacidade de gerar mais e mais lucros. Se é assim, por que você quer ganhar dividendos? Não é melhor deixar a empresa trabalhar com aquele dinheiro?
“Fábio, você só pode ser esquizofrênico. No último artigo, você disse que era melhor ganhar dividendos do que aplicar na renda fixa. Agora, você está dizendo que ganhar dividendos não é tão bom assim? Você está se contradizendo!”
Não necessariamente! É melhor ganhar dividendos do que aplicar na renda fixa — mas, melhor ainda, é investir em uma empresa que não pague tanto dividendo e que reinvista seus lucros. Em outras palavras, o Lucro Por Ação é ainda melhor do que os dividendos, no longo prazo. E não se esqueça de que, como empresas lucrativas são obrigadas a distribuir 25% de seu lucro para os acionistas, essas empresas também irão te pagar dividendos. E, como o lucro cresce, os dividendos também crescerão ao longo do tempo!
Vamos ver um exemplo com as ações da Ambev:
Ano | Lucro por Ação | Dividendos
2002 | 2,45 | 0,82
2003 | 2,29 | 1,62
2004 | 1,88 | 2,15
2005 | 2,51 | 2,74
2006 | 4,55 | 2,29
2007 | 4,56 | 3,22
2008 | 4,96 | 5,12
2009 | 9,66 | 5,36
Como o leitor pode ver, tanto o lucro por ação quanto os dividendos cresceram consideravelmente – e de uma maneira quase previsível, dada a constância dos aumentos – salvo em 2003 e em 2004, quando a empresa teve uma pequena retração nos lucros, muito em razão dos investimentos necessários e à fusão com a Interbrew, que resultou na Inbev. E isso porque a empresa distribui uma quantia considerável de seus lucros (em torno de 60% no período considerado – essa medida é chamada de payout). Se a empresa pagasse mais dividendos, dificilmente teria dinheiro em caixa para poder fazer o lucro crescer. A média de crescimento dos dividendos, no período, foi de 553% (ou 26,45% ao ano).
Portanto, mesmo sem perder de vista o foco nos dividendos, é preferível investir em empresas com um Payout menor, mas que são competentes no reinvestimento de seus lucros.
É claro que existem exceções. Empresas como as do setor elétrico ou empresas gigantescas que não têm como crescer mais fazem um negócio melhor distribuindo seus lucros do que os reinvestindo. Mas empresas que ainda têm um bom potencial de crescimento fazem um negócio melhor reaplicando os lucros obtidos do que os devolvendo ao investidor.
Fábio Portela L. Almeida é mestre em direito constitucional e mestrando em filosofia pela Universidade de Brasília e é um investidor desde 2006. Desde então, tem estudado sobre temas relacionados ao mercado como autodidata. As dificuldades encontradas para obter informações simplificadas e corretas sobre investimentos o levou a escrever o blog “O pequeno investidor“, que tem por objetivo ensinar a pequenos investidores, com uma linguagem clara e descomplicada, como funciona o mundo dos investimentos.