Colunistas ||| O Jeitinho desonesto
Todos os dias vemos denúncias de descaso com equipamentos públicos, denúncias de determinados serviços básicos que não funcionam, e outras denúncias que envolvem o dinheiro de todos: o dinheiro do Estado.
É um festival de desperdício incrível, do Oiapoque ao Chuí, do Estado aos Municípios, e não adianta sequer tentar rastrear esse dinheiro, pois ele não estará nas cidades ou aplicado, mas no bolso de alguém que provavelmente não mora no local aonde ocorreu a licitação.
Algumas questões ficam no ar, como por exemplo a falta de fiscalização no uso do dinheiro público. Isso não envolve apenas preços, mas a aplicabilidade e qualidade dos bens comprados. Todos os itens são questionáveis, em todas as licitações.
Uma vez por ano, o povo brasileiro gosta de ver dinheiro em formas de fogos de artifício, então o ardil “vencedor” da licitação tem várias opções: ele pode cobrar por 20 minutos, e realizar apenas 15 minutos, afinal, quem vai se preocupar com isso nas festividades de ano Novo? É festa, minha gente! Ou então vamos colocar culpa no mau tempo. Também é possível aumentar arbitrariamente o valor do metro quadrado pela boa vontade, e fechar um contrato com valor 219% superior ao valor passado, como no caso da Prefeitura de Recife (http://www.leiaja.com/carnaval-2012/2012/pcr-cancela-licitacao-de-fogos-para-o-carnaval-2012)
Quem sabe, o “vencedor” também pode ganhar uma licitação para coleta de lixo e limpeza urbana, e como a vitória sempre dá direitos ao seu César, ele pode receber para limpar 2000m2, mas ninguém vai notar se ele limpar só 1700m2. Olhem, espectadores, como ficou muito bem limpo esse 1700m2, vocês vão brigar por 300m2 que ninguém usa? Ou então um caso clássico: servir aos espectadores com uma documentação falsa (http://ruifalcao.com.br/vencedora-da-licitacao-do-lixo-deu-informacao-falsa). A questão é: até em um programa de auditório você seria excluído se fornecesse documentações falsas.
E agora vamos falar de serviços e a qualidade dos serviços fornecidos. Quando se ganha uma licitação, você é o Rei. O bolo é seu, você não está prestando serviços, está simplesmente procurando uma maneira de fornecer o menos possível e angariar o máximo possível, de forma desonesta ou com alguma promessa de emprego, ou de churrasco.
Quem trabalha com licitações ou órgãos federais, entende como tais são verdadeiros reféns das empresas que fornecem serviços, desde softwares até geladeiras, sempre há uma maracutaia genial que dificilmente alguém conseguirá pegar.
Sim, dificilmente alguém conseguirá pegar, porquê essa cultura de “jeitinho desonesto brasileiro”, está enraizada em todos os lugares. Desde o fura-filas, até um funcionário de carreira de alguma empresa pública, que aceita receber como “presente de agradecimento” por uma licitação que ele ajudou alguém, um churrasco em alguma churrascaria famosa. É impressionante até onde a carência de um empregado é capaz de ferir.
O problema? Sim, há algo que podemos chamar de “meta-problema” por aí além do problema óbvio do desperdício e injustiça, essa cultura é passada de pais para filhos, de empresários para filhos, de funcionários públicos para filhos, de operários para filhos. Meu filho, há sempre um jeitinho desonesto, e não foque em crescer: foque no jeitinho desonesto, porquê esperando na fila do SUS e nas portas das escolas por vagas, sempre haverão pessoas esperando pelas suas falsas soluções milagrosas.
Sergio Luiz Wermuth