Colunistas ||| Poder de Compra e o Longo Prazo – Verdades Reveladas (parte 2)
Certo dia, li em algum lugar uma história que foi muito difundida e não me lembro onde li. Esquecimento maior por razões éticas. Essa história dizia mais ou menos assim:
“O investidor Arnaldo arrumou o primeiro emprego…. aplicou 300 reais em 1996, que era 20 % do seu salário pois ele ganhava R$ 1500,00. Aplicou os R$ 300,00 na ação Vale do Rio Doce e começou a fazer aportes mensais nesse valor…”
A história era linda, cheia de detalhes e vários investidores adoraram lê-la. Todos que a leram comentam até hoje e alguns investidores se iludiram com esse método achando que iam ficar milionários. Ficou famosa e quem a escreveu também.
Onde está o erro?
Simples: a deficiência da Matemática e o poder de compra.
Na história dizia que Arnaldo tinha 22 anos e conseguiu o primeiro emprego de Engenheiro. O piso salarial de um Engenheiro na época era de oito salários mínimos em 1996. O equivaleria a R$ 800,00. Para você ter uma ideia como os “R$ 1500,00” dele era um salário alto, neste ano, o salário seria maior que o do Deputado Estadual da época.
É como você tivesse 22 anos de idade e recebesse hoje 15 salários mínimos no seu primeiro emprego. Ou seja, você receberia mais que 7 mil e seiscentos reais no primeiro emprego.
Mesmo assim, considerando como real esse caso, ele aplicou mensalmente 20%. O que equivale aos dias de hoje, Mil e quinhentos reais mensalmente. Para provar isso verifico que o salário mínimo era 100 reais. Vamos calcular:
100 —510 (salario atual)
300 – X
100x = 510 ● 300
x= 153000/100
x = 1530 (Mil quinhentos e trinta reais)
Legal, verificamos nesse “conto de fadas” que ele, Arnaldo, no “primeiro emprego”, com 22 anos, teria que colocar na Vale5 o equivalente a 1 mil e quinhentos reais mensalmente. E que ele recebia quase o dobro do piso de Engenheiro no primeiro emprego. Que sorte não? 🙂
Ainda no meio de sua trajetória, contada mês a mês, o investidor aplicou em 2002 doze mil reais que recebeu de bônus da empresa que trabalhava… Legal…em 2002, doze mil… …humm… VAMOS AOS CÁLCULOS…..
Doze mil reais em 2002 seria como se fosse sessenta e seis salários mínimos. Ou seja, como se ele recebesse da empresa que trabalhava 33 mil reais de participação hoje… Empresa boazinha essa né? 🙂
Ainda no mesmo capítulo da história de algum lugar que li, foi dito que “Arnaldo” aplicou um dinheiro, pois a empresa em que trabalhava deu outro bônus de 30 Mil em 2004 e ainda frisou que eram 12 salários mínimos….Note que 12 salários mínimos eram na época R$2880,00 e não 30 Mil. Trinta mil Reais eram mais que 120 salários mínimos…
Não é nenhuma surpresa, esperar que ficasse milionário assim, não é mesmo?
Recentemente uma revista de investimentos utilizou como “excelência” a história, o livro e o capítulo citado. Não tiveram nem o trabalho de calcular os valores para ver se era verídica essa “história real”. (vide nota)
O restante do livro é muito bom. Mas não acredite nesse conto de fadas. Pois o sapo é seu bolso e não vai virar príncipe.
🙂
Outros exemplos em sites diversos:
“Se você tivesse investido 300 reais desde”… e por aí vai…
Parece pouco para investir mensalmente, mas se você analisar novamente a tabela, no poder de compra da época, o salário mínimo era equivalente a 100 reais. Ou seja, 3 salários mínimos.
É mais ou menos como você investisse todo mês 1 Mil e quinhentos Reais a partir de hoje e tentar recolher os frutos daqui a 20 anos.
Conclusão:
Se você está pobre ou com poucos recursos para fazer aportes mensais, e pretende ficar rico, de nada vai adiantar investir no longo prazo. Não é um investimento que te fará rico com pouco dinheiro.
É sempre “a deficiência da matemática” iludindo a massa.
Mas se você está com recursos em abundância essa é a hora para investir no longo prazo.
Considero o método de longo prazo como um investimento excelente. Mas não te deixará rico se você não possui recursos suficientes para tal. É um dos melhores investimentos e não é considerado como especulação.
Invista consciente e aproveite os juros compostos.
Nota do autor: Foi citada uma história contada em um livro, pois temos o dever moral de não disseminar mentiras e coisas que trarão prejuízo ao investidor. Não coloquei o nome do livro, não citei que ele existiu realmente e nem tenho interesse comercial nisso. Como autor de livros não seria ético de minha parte citá-lo expressamente. Peço para o moderador que não cite o nome do mesmo e nem da revista que publicou tal matéria. Peço que não libere as mensagens de respostas com esta citação, para preservar o autor. Não entrei em detalhes que farão a pessoa que não leu o livro identificá-lo. Quis com isso fazer apenas com que a pessoa, que já leu o mesmo e outros textos do gênero, não se iluda, não tenha prejuízos através dos tempos e aprenda mais com a “deficiência matemática”.
Para saber mais:
Fontes de pesquisa:
Índices de custo de vida DIEESE
http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml
Sites citados:
http://www.hardmob.com.br/showthread.php?p=7635883
http://www.portalbrasil.net/2009/colunas/editorial/agosto_16.htm
Alexandre Mazzei é consultor da Moraes de Andrade, Professor de Finanças, Matemática, Física e atualmente leciona Eletrônica pela Rede Faetec, com experiência de mais de 12 anos no ensino. Engenheiro e Licenciado em Matemática e Física pela Fundação Souza Marques.
Autor do livro: “Memórias de Um Operador de Home Broker”.
Nota do Site: | Memórias de Um Operador de Home Broker: Ações e Opções Alexandre Luiz Mazzei |