Colunistas ||| Quando vender uma ação?
Uma resposta possível para esta pergunta é “NUNCA”! Digamos que você tenha comprado ações de uma empresa excelente, recebeu bons dividendos durante o período em que ela esteve em sua carteira e os reinveste para adquirir novas ações. Além disso, já tem a ação em sua carteira de investimentos por um bom tempo e lucros fantásticos com a valorização da ação. É natural que você comece a pensar em vendê-las. Um pensamento de “acho que ela já deu o que tinha que dar” pode passar pela sua cabeça.
Vejamos a questão por outro lado: a empresa continua lucrativa, seus lucros continuam a crescer constantemente e não há nada que indique uma mudança nessa situação. Examine se as taxas de crescimento do lucro por ação (LPA) dos últimos 10 anos mantém-se nos últimos 5 anos. Às vezes pode acontecer de, após um período fantástico de crescimento ao longo dos últimos 10 anos, essa taxa estar ainda melhor nos últimos 5 anos! Se isso ocorrer e os preços das ações não estão excessivamente sobrevalorizados, não há razão para vendê-la.
Mas é verdade que existem algumas situações em que vender uma ação pode ser interessante. Uma delas é um índice Preço por Lucro (P/L) muito alto sem razões aparentes. Uma empresa que nos últimos 10 anos teve um índice P/L médio de 10 e está sendo negociada a um índice P/L médio de 50 indica que os preços podem estar inflados. Mas não utilize apenas esse indicador para avaliar a situação: verifique se não há outros motivos para isso ter acontecido. A empresa pode ter passado por uma crise pontual e seus lucros despencaram em um determinado ano, desvirtuando a equação, mas não há nada que indique que isso acontecerá no futuro. Isso aconteceu com algumas empresas durante a crise de 2008. Quando os lucros retornarem ao normal novamente, é possível que esse índice retorne a um padrão mais baixo.
Mas o investidor deve observar se ocorreu valorização extrema do ativo, sem razão aparente. Isso ocorre em períodos de euforia no mercado, quando os preços sobem sem qualquer motivo. Sobem porque sobem. Preços muito altos sem justificativa só têm um destino certo: a queda brusca. Nesse caso, é melhor vender as ações, mesmo que seja para recomprá-las em um momento posterior, quando o mercado recobrar o juízo.
Mas Philip Fisher, no livro “Common stocks, uncommon profits”, faz um alerta sobre o quando vender uma ação, se há suspeita de sobrevalorização do ativo. Pode acontecer de a cotação do ativo subir um pouco e aparentemente estar sobrevalorizada (digamos, o P/L subiu de um patamar médio de 5 para 12), mas as expectativas de lucro são tão superiores a isso em um prazo de 8 ou 10 anos que essa aparente sobrevalorização não terá praticamente qualquer efeito real na rentabilidade esperada. Se uma ação subiu 40%, mas você espera uma rentabilidade em 10 anos de 500%, pode valer a pena segurar o ativo.
Uma outra razão interessante para vender ações de uma boa empresa ocorre quando surge uma oportunidade melhor de investimento. Se você espera obter uma rentabilidade de 16% ao ano com uma ação e depois de alcançar seu objetivo descobre uma outra ação na qual é possível esperar razoavelmente uma rentabilidade de 20% ao ano, o ideal é vender a primeira ação para comprar a segunda.
Philip Fisher também apresenta uma outra razão interessantes para que o investidor venda uma ação: o fato de a empresa não apresentar o lucro originalmente esperado. Se os lucros da companhia começarem a cair e ficarem assim por algum período, sem explicação aparente, talvez seja o caso em que vender as ações da empresa é uma opção racional.
Fábio Portela L. Almeida é mestre em direito constitucional e mestrando em filosofia pela Universidade de Brasília e é um investidor desde 2006. Desde então, tem estudado sobre temas relacionados ao mercado como autodidata. As dificuldades encontradas para obter informações simplificadas e corretas sobre investimentos o levou a escrever o blog “O pequeno investidor“, que tem por objetivo ensinar a pequenos investidores, com uma linguagem clara e descomplicada, como funciona o mundo dos investimentos.