Colunistas ||| Tragédia anunciada
Não há quem não reconheça a Petrobrás como um dos principais papéis a “puxar” o índice Ibovespa, principal indicador de comportamento do mercado de capitais brasileiro. Quase tudo o que acontece com a Petrobrás, acontece também com o Ibovespa (e com o dinheiro de todos nós, investidores).
A tenebrosa crise que se abateu sobre a bolsa de valores de São Paulo, e que fez regredir a pontuação do índice aos níveis em que se encontrava no início de 2006, foi prontamente anunciada pelo gráfico de candles da Petrobrás, ainda no final de Maio de 2008, sob a forma de um padrão chamado “Bebê Abandonado de Topo” (veja no gráfico, destacado em vermelho). O formato desse padrão é clássico e atende a todos os requisitos morfológicos de sua composição, inclusive o comportamento de volume.
Esse padrão é formado por um candle de corpo minúsculo que possui um gap entre sua mínima e as máximas dos candles anterior e posterior. Ele demonstra uma troca radical do controle sobre o mercado (note que o gap do segundo para o terceiro dia é maior que o gap entre o primeiro e o segundo).
Não é de admirar que a ele tenha se seguido uma queda histórica no preço desta ação. O que vemos aqui é mais uma prova do quando a análise de candles é eficiente como ferramenta para identificar reversões, e de quanta dependência existe entre as ações da Petrobrás e o resto do mercado, pois esse padrão não se formou em outros papéis importantes, e nem mesmo no gráfico do Ibovespa, embora quase todos tenham acompanhado a queda que se seguiu. Entre os demais papéis de destaque no Ibovespa, durante o mês de Maio, tivemos sinais relevantes apenas na VALE5 (que apresentou uma “Estrela da Tarde”, porém com um terceiro candle branco) e na CSNA3 (que apresentou uma “Estrela Cadente”).
Infelizmente, a descrença faz com que a análise de gráficos de Candlestick ainda não seja bem aceita como método de avaliação de comportamento do mercado, por boa parte dos analistas, privando muitos investidores dos benefícios proporcionados por esta magnífica ferramenta. Se, por um lado, essa descrença o torna, ainda, um método sub-utilizado, por outro, oferece um diferencial competitivo a quem lhe credita (como eu) seu devido valor, por coloca-lo em vantagem frente aos demais investidores, proporcionando um ângulo adicional de visão sobre o mercado.
A versatilidade desses gráficos é tamanha, que permite combinações de sucesso com outros métodos estatísticos e empíricos, na busca por convergências de sinais. Tenho recomendado sua utilização com insistência, sempre que surge uma oportunidade, pois conheço bem suas vantagens em relação aos gráficos de barras, muito mais pobres em conteúdo.
De qualquer forma, o investidor bem preparado que conseguiu enxergar, no gráfico da Petrobrás, a tragédia anunciada, tratou de vender seus papéis nos lucrativos patamares de preços em que se encontravam na época e teve a oportunidade de recomprá-los, no inicio de 2009, pela metade do preço, dobrando sua posição nesse excelente ativo.
Carlos Alberto Debastiani é empresário, investidor e autor dos livros “Candlestick”, “Análise Técnica de Ações” e “Avaliando Empresas, Investindo em Ações”.
Avaliando Empresas, Investindo em Ações CARLOS ALBERTO DEBASTIANI | FELIPE AUGUSTO RUSSO Editora: Novatec |