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Com Selic a 8,75%, poucos fundos batem a poupança

Com Selic a 8,75%, poucos fundos batem rendimento da poupança
da Folha de S.Paulo

Com a redução da taxa Selic para 8,75%, poucos fundos de investimento conseguem ainda superar o retorno oferecido pela caderneta de poupança.

Simulação feita tendo por base a taxa Selic em 8,75% mostra que os fundos de renda fixa (que pagam juros) conseguirão bater a rentabilidade da poupança apenas se cobrarem taxa de administração máxima de 0,5% –realidade praticamente inexistente no varejo.

No caso de um fundo com taxa de administração de 1%, a anterior Selic (de 9,25%) representava ganho mensal líquido de 0,53%. Com a Selic a 8,75%, a rentabilidade recua a 0,49%. Já o retorno da poupança deve descer para cerca de 0,51%. Nesse cenário, apenas um fundo com taxa de administração de 0,5% consegue retorno melhor, de 0,53%.

Para as simulações, feitas pelo economista José Dutra Vieira Sobrinho, foi considerada a cobrança de 20% de IR.

“Se continuar no ritmo atual, daqui a pouco todos os fundos vão perder para a poupança. Mas, se os clientes não começarem a reclamar ou mesmo sair dos fundos, por que os bancos irão se preocupar em reduzir a taxa de administração?”, questiona Vieira Sobrinho, vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.

Por enquanto, o que os grandes bancos privados têm feito é reduzir o valor mínimo de entrada nos fundos. Dessa forma, buscam ampliar as chances de o cliente encontrar uma aplicação com taxa menor para o montante de recursos que tem para aplicar. Isso acontece porque os fundos que exigem maiores aportes iniciais costumam cobrar taxas menores que os que pedem aplicações iniciais mais modestas.

Se a Selic tivesse descido a 9%, fundos com taxa de administração de até 1% ainda empatariam com a poupança.

Mas a realidade do mercado está distante de fundos com taxas tão baixas. Segundo a Anbid, a taxa de administração média cobrada nos fundos DI (que seguem a Selic) é de 1,49% ao ano.

“Sempre nos preocupamos em informar que há a possibilidade de o cliente aplicar em um outro fundo, que pode estar com taxa ou retorno melhor”, afirma Aquiles Mosca, estrategista do Santander Asset Management. “E a rentabilidade final dos fundos depende de vários fatores, como a composição da carteira, o tempo que a aplicação é mantida e o tamanho da alíquota de IR”, diz.

As alíquotas de IR dos fundos variam de acordo com o tempo que o investidor mantém sua aplicação. Se for considerada uma alíquota mais branda -caso de um investidor que mantenha a aplicação por mais de dois anos e pague 15% de IR-, a Selic de 8,75% permitiria que um fundo com taxa de administração de 1% também batesse a poupança, dando rentabilidade mensal de 0,525%.

Quem resgata aplicações em fundos em até seis meses paga a alíquota máxima de IR, que é de 22,5%; para aplicações mantidas por mais de dois anos, o IR cobrado recua para 15%.
Os fundos DI e de renda fixa, após perderem recursos em junho, registraram captação líquida de R$ 2,59 bilhões nas duas primeiras semanas deste mês -enquanto a poupança captou R$ 3,4 bilhões.

O governo anunciou projeto de cobrar IR a partir de 2010 das cadernetas com saldo superior a R$ 50 mil para tentar evitar a fuga dos fundos de renda fixa, que servem para financiar a dívida pública. Anunciado em 13 de maio, o projeto até hoje não foi enviado ao Congresso.

Outra medida em estudo pela Fazenda é a de reduzir a taxação dos fundos, mas ela também ainda não saiu.