Grandes fortunas usam gráficos ou fundamentos para operar ?
Em se tratando do investimento em Bolsa, existem duas “escolas” que dividem a atenção dos participantes: a gráfica e a fundamentalista. Mas além de dividir a atenção, estes dois “lados” despertam o lado torcedor de muitos. Sim, até mesmo na Bolsa existe a divisão de “times” … Temos os grafistas e os fundamentalistas.
Muitas vezes uma discussão (ao pé da letra) entre defensores dos dois métodos parece uma briga entre judeus e palestinos, onde aquele bate boca parece não levar ninguém a lugar nenhum, sabe ? Cada um puxa sardinha para o seu lado, apresenta causos onde o uso do gráfico funcionou (os grafistas), outros onde os fundamentos falaram mais alto (os fundamentalistas), e é claro que exemplos onde o outro lado errou também são lembrados.
Na maioria das vezes a discussão acaba se mostrando equilibrada, pois ambos apontam suas justificativas para a adoção do método e a coisa acaba ficando sem um vitorioso depois de algum tempo. Até que surge fato derradeiro:
Quer ver como a análise gráfica não funciona ? Me mostre algum grande (mas grande mesmo) investidor que use a ferramenta para gerenciar suas operações. Viu ? Não existe !!
Sim, normalmente esta é a arma fatal … 🙁
“Não existe nenhum grande investidor grafista”
E – normalmente – assim termina a discussão. Os fundamentalistas puxam uma lista enorme de investidores (sempre liderada por Warren Buffett) que adotam a a ferramenta que eles escolheram, e que consideram como sendo o estado da arte em termos de análise técnica.
Mas … será que isso é verdade ? Será que realmente não existe nenhum grande investidor grafista ?
Juro que tentei fazer uma reflexão, para tentar encontrar algum bom exemplo … e acabei não encontrando. Pronto ! Esta seria a prova definitiva. Como alguém que é adepto da escola gráfica (lembra que já contei a história de como escolhi qual delas deveria adotar ?) não consegue apresentar um grande exemplo ? E a resposta para esta pergunta provavelmente seja a mais simples que existe: Porquê não existe realmente nenhum exemplo a ser citado.
Pronto, joguei a toalha. Vitória dos fundamentalistas !! Será ?
Usarei um exemplo que te fará pensar se a resposta é realmente tão simples e direta: “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porquê vende mais ?“. Sim pequeno gafanhoto, uma pergunta sem resposta é usada para te fazer refletir sobre a questão anterior.
Não entendeu ? Deixe-me (tentar) explicar …
Será que não existe exemplo de grande investidor que use gráficos para operar, por “não funcionar” ? Ou será que não existe um exemplo por não ser possível ?
Sim, pode ser que não seja possível adotarmos os gráficos para operarmos grandes volumes.
Me diga: o que acontece quando você coloca uma ordem de compra de R$10.000,00 em ações, na PETR4 por exemplo ? Você leva de imediato, provavelmente levando o que tem na ponta de venda. Correto ? E se aumentarmos o valor para R$100.000,00 ? Ainda assim conseguirá comprar facilmente. E se for para R$1.000.000,00 ? Opa, dai já será preciso quebrarmos a ordem em alguns pedaços para garantir a compra sem influenciar na cotação daquele momento. E se for com R$10.000.000,00, como fazer ? Quebrar em pedaços em um maior número de pedaços (podendo manter o tamanho adotado no exemplo anterior).
E se forem R$100.000.000,00 ? Hummm … Com este valor precisarei de um tempinho para garantir a compra de todos os pedaços que precisarei usar para … Xi, o preço andou e eu não consegui comprar tudo na região em que eu “precisava” comprar … E com R$1.000.000.000,00 ? Certamente precisarei de alguns dias para dar conta de comprar tudo, mas provavelmente começarei a afetar a cotação do mercado e com isso pagarei mais caro ou não conseguirei comprar tudo o que quero na região “ideal” …
Quem opera gráficos, sabe que o timing da compra é “tudo”. É ele que definirá se a operação será ganhadora ou não. Se você precisa de muito tempo para fazer a compra inteira, você provavelmente perderá uma parte da alta, influenciará o preço de compra (levando para cima), possivelmente contaminando sua própria operação. Você corre o risco de criar a alta com a sua compra, transformando-a em uma “profecia auto-realizável”, sabe ? E mesmo que consiga comprar tudo, como fará para sair, sem jogar a cotação para baixo, respeitando os sinais gráficos que surgiram em sua tela ?
Sim, o motivo para não existir um exemplo de grande investidor (na casa dos muitos bilhões) puramente grafista é porque a natureza da indicação de uma operação, via análise gráfica, requer que você a execute de forma rápida e próxima de um determinado valor. Quando o volume a ser investido é muito grande, a coisa complica …
Mas isso não é justificativa ! Existem commodities com MUITA liquidez !
E onde você acha que estão os maiores grafistas que poderiam ser usados como exemplo ? 😉
Vimos movimentos muito fortes ocorrendo no petróleo nas últimas semanas. O que os causou ? Sinais de reversão gráfica ! Tanto quando puxaram, ou quando houve uma correção. (associado ao acionamento de STOPs)
Mas mesmo estes mercados complicam um pouco as entradas (e saídas) rápidas. O funil aperta e a coisa complica …
Você também poderia me dizer que o investidor poderia pulverizar as ordens, espalhando a carteira em várias ações, diminuindo desta forma “pressão” da liquidez. E eu digo: até um certo número de ativos é “fácil” acompanharmos. Mas experimente precisar acompanhar e operar muitas ações ao mesmo tempo. Ou você tem uma equipe muito grande, ou fica louco. 🙂
A pessoa poderia adotar tempos gráficos mais longos, pois dessa forma a distorção da entrada e saída “imediata” seriam praticamente anuladas ? “Talvez”, mas mesmo desta maneira a operação seria influenciada …
Acabou a discussão ?
O tamanho das operações se torna tão grande, a quantidade de negócios tão gigantesca, que dificilmente alguém aguentaria a pressão de ficar negociando bilhões e bilhões de dinheiros com a regularidade, ritmo e velocidade que uma sinalização gráfica demanda.
A meu ver este é um dos principais motivos para a ausência de grandes exemplos de grafistas no mercado. Você concorda ? Ou conhece algum exemplo que joga por terra esta “justificativa” ?