Livros ||| A arte de imitar
Existe um consenso de que a cópia é errada, que não devemos nos apropriar da criação alheia em benefício próprio, que devemos respeitar a propriedade intelectual do concorrente (atual ou futuro), que devemos pensar individualmente e criarmos nossos produtos e serviços a partir do nada, do zero. Mas … será isso possível ?
Sim, concordo plenamente que os direitos individuais (pessoais e empresariais) devam ser plenamente respeitados, mas … será que esta é a natureza do ser humano ? Pense por um instante, pense em como seriam nossas vidas, se os homens das cavernas tivessem pensado “não, mim não poder usar pedra na ponta desta vareta para caçar, afinal a tribo vizinha já desenvolveu o conceito e agora só me resta desenvolver algo completamente diferente … Quanto tempo leva para inventarem a pólvora ?” Ou então … se após inventarem a roda não tivessem adotado a criação para construir a biga, e depois a carroça, e depois o automóvel ?
Para e pense no mundo que nos cerca e veja tudo com um olhar mais analítico. O que conseguiu ver ? Sim … a grande maioria das coisas que hoje nos trazem conforto e prazer foram criadas a partir de algo que já existia. Foram melhoradas e aperfeiçoadas, mas em suma são “cópias” de algo que já existia.
O padrão “cópia” está em tudo e em todos
Em “A arte de imitar” (Elsevier, 2011) o autor, David Kord Murray, tenta nos mostrar o quão importante é o uso da cópia para o crescimento e desenvolvimento da raça humana. Como ideias, aparentemente, desconexas, nos proporcionaram teorias e tecnologias que tornam possível o nosso modo de vida.
Sim, desde a observação do comportamento natural das coisas (não, não vou usar o clássico exemplo do velcro, onde o criador viu como pequenas plantas grudavam em suas calças para depois criar o produto), até mesmo a partir da observação de áreas diferentes – como por exemplo Darwin demonstrar interesse sobre geologia criando analogias, para depois de muitas observações criar a Teoria da Evolução das Espécies. Existe ligação entre a transformação do planeta e a evolução apresentada pelo seres vivos ?
O autor alega que até a época da Renascença era comum a prática da cópia. Tudo era compartilhado, todo o conhecimento humano era dividido por todos e de livre acesso e uso. Mas a partir do momento em que começaram a surgir as obras assinadas, onde o valor de muitos itens dependiam mais da marca do que do produto em si (uma obra de arte de um grande mestre, por exemplo), surgiu a “necessidade” da criação do direito da propriedade intelectual. A partir disso tudo passou a ser “fiscalizado” e o uso de tecnologias já existentes, para a criação de novos itens, passou a ser considerado cópia.
Obs: hoje enfrentamos um grave problema em relação ao assunto propriedade intelectual, a ponto de vermos o Google tentando registrar o “coraçãozinho com as mãos” como sendo de sua propriedade … 😯
O ser humano se desenvolve desta forma: olhando o que existe ao seu redor, sempre tentando melhorar o que vê, é da nossa natureza. Este é um dos motivos que me leva a ler tanto sobre tantos assuntos “diferentes” (já falei sobre este assunto em outras oportunidades). Conceitos adotados em certas áreas podem ter utilidade em problemas que tenho em assuntos completamente diferentes e sem ligação.
Mas como criar, desenvolver, inventar, se diferenciar, adotando esta prática nos dias de hoje ?
Se você faz uso da criação ou o desenvolvimento faz parte do seu dia a dia, a leitura deste livro é muito bem-vinda e certamente trará belos frutos. Leitura agradável e tranquila, recheada de exemplos da história humana, para mostrar que além de criativos imitamos uns aos outros desde sempre. 🙂
Nota do Site: | A arte de imitar David Kord Murray Editora: Elsevier |