Livros ||| O debate sobre a desigualdade de renda no Brasil
Dizer que o Brasil é um país que apresenta enormes desigualdades não é novidade alguma. Como pode, um dos países mais ricos do mundo não ter a capacidade de proporcionar à sua população uma qualidade de vida aceitável, uma distribuição mais “igualitária” dos recursos ? Por que não pode o Brasil distribuir de maneira uniforme tudo aquilo que a sua economia gera ?
Por um motivo muito simples: o Brasil é um pais capitalista, e que por isso tem em suas “configurações básicas” o conceito de que a igualdade não existe. As pessoas têm que ser beneficiadas por suas conquistas, por seu empenho, por se diferenciarem. “Maldito capitalismo !!” … muitos pensariam. Mas você sabe que até mesmo os países que se consideram socialistas/comunistas apresentam uma diferenciação entre os “iguais” ? Em Cuba, por exemplo, médicos e atletas recebem um punhado a mais da ração diária do que os outros habitantes da ilha. (sim, estou exagerando …)
Não preciso nem comparar a população com os integrantes da cúpula do governo, que têm vida de rei … Não é mesmo ?
Mas não é sobre isso que vamos falar. Falaremos sobre os motivos que levaram o país a ter uma das distribuições de renda mais desiguais do mundo. Eles são vários e não há consenso sobre eles. Não existe um que possa se dizer como sendo o principal. Por mais que a Educação (assunto abordado em um artigo anterior) tenha papel fundamental na história, somente ela não seria capaz de criar a situação que vivemos.
Tudo começou no governo militar …
Este é um dos pontos levantados pelo livro, que por falta de dados mais antigos, será aceita como “verdade”. Infelizmente não tenho dados que provem, ou que rebatam essa afirmação … mas ao lembrarmos das características brasileiras, da época da colonia, do Brasil império … fica difícil afirmarmos que a desigualdade já não era presente naquela época.
Será que não vimos uma melhora nas condições mundiais de desigualdade durante o século XX, enquanto nós (possivelmente) tenhamos piorado ?
Segundo os estudos apresentados no livro “O debate sobre a desigualdade de renda no Brasil“, de Rodrigo Gandra, foi durante o governo militar que o processo de desigualdade de distribuição da renda piorou. Numa tentativa de segurar a inflação, que já nos incomodava naquele momento, estancaram os reajustes salariais, muitas vezes trazendo perdas reais (a inflação era superior ao reajuste, quando ele existia) aos empregados. Enquanto isso, empresários, industriais e outros poucos profissionais (normalmente cargos de gerência), mantinham o ritmo de aumento em seus ganhos.
Foi neste momento, também, que um setor começou a apresentar ainda mais diferenciação entre os outros trabalhadores. Diferenciação que existe até hoje … Estou falando dos funcionários públicos. Apresentando rendimentos muito superiores à média, ganhando salários mas elevados do que os apresentados na iniciativa privada (comparando-se profissionais que exercem a mesma função), o grupo foi se distanciando e elevando ainda mais a distorção entre o topo e a base da pirâmide.
Muitos, muitos outros motivos
Distribuição das terras, com muitos latifúndios improdutivos (ou com produtividade muito abaixo da apresentada por propriedades de proporção menor); dificuldade de acesso e a baixa qualidade do ensino (especialmente o público, onde muito se investe no ensino superior, deixando a base de lado); as altas taxas de juros, que desincentivam o empresário a investir em novos empreendimentos, que viriam a gerar novos empregos, trazendo competitividade salarial entre os interessados disponíveis; o processo do êxodo rural, com milhões de pessoas saindo do campo em direção às cidades (onde não tinham emprego, puxando para baixo a média da distribuição) …
Acredito que cada um destes itens tenha parcela de culpa e não tenhamos como apontar um único alvo. O combate se dará ao atacarmos todas as frentes, não será possível escolhermos apenas um destes itens e tentarmos “exterminá-lo”. Talvez uns sejam mais fáceis do que os outros, como dizem ser o problema da educação … Mas apenas “dizer” não nos levará a lugar nenhum.
Muitos apontam o Bolsa Família como uma ótima forma de aliviar a desigualdade. Até seria … Se houvessem mais contrapartidas do beneficiado … Apenas receber o dinheiro não trará uma melhora para o quadro geral. É mais dinheiro na mão de quem ganha menos ? É. Mas olhando friamente … é apenas isso. É apenas um volume de dinheiro “jogado” nas contas para trazer a média um pouco mais para cima.
Mas este já é um outro papo … para outra hora. 🙂
A leitura me ajudou bastante na compreensão do problema da distribuição, suas origens e “aceleradores”. E como conhecer o problema é o primeiro passo na busca por uma solução … 😉
Indico a leitura a todos que tenham o interesse de se engajar nesta luta ! 😀
Nota do Site: | O debate sobre a desigualdade de renda no Brasil Rodrigo Gandra Editora: Luminária Academia |