Margem dos bancos com crédito cresce 60% em 2 anos e BC pede redução
Você que já é de casa, deve ser conhecedor da minha posição em relação aos valores cobrados pelos bancos na forma de juros pelos empréstimos. Errados ? Demônios ? Ladrões ? Não, longe disso … Apenas atuam em um mercado com um excesso de demanda, e graças a isso podem cobrar o quanto querem … (literalmente)
O problema é que as vezes a coisa complica de um jeito tal que fica difícil para “defendermos” o outro lado da moeda.
Veja bem: não defendo a ideia de tirar proveito de quem está envolvido em uma situação catastrófica. Por exemplo, abomino quem dobra, triplica os preços em uma situação de emergência, como em terremotos, inundações, furacões, etc. Quantas vezes vimos reportagens apresentando o salto nos valores cobrados por alimentos e água em regiões afetadas por desastres naturais ? E, ao menos na minha opinião, parece que os bancos estão fazendo coisa parecida. 🙁
Cobrar caro pelo dinheiro emprestado, se existe uma multidão em busca dele ? Oferta VS demanda e ponto final … A demanda é enorme, naturalmente. Imagine então em um cenário de crise como o que enfrentamos nos últimos meses ? Não seria a mesma situação da cobrança excessiva por uma garrafa d’água ?
Infelizmente falta Educação Financeira para a população, poucos são os que abrem mão do consumo instantâneo em troca de uma maior segurança no futuro. Poucos são os que se planejam, que vivem dentro do orçamento. E não é nem por ganharem mal … Muita gente que ganha muito bem (especialmente servidores públicos) consome o crédito consignado como se não houvesse amanhã.
Cobrar caro se existe demanda ? Vemos isso acontecendo em todos os mercados, em todo tipo de produto e serviço. Por que seria diferente no sistema bancário ? Por que seria diferente quando o produto ofertado é o próprio dinheiro ? O problema é tirarem proveito de uma situação complicada como a que passamos …
Perceba que não adotam outras estratégias que evitem o empréstimo aos maus pagadores. Apenas elevam a taxa, na tentativa de equilibrar a balança, tentando repor o que possa vir a se tornar calote. E o cadastro positivo ? Não está servindo para nada ? …
O que mais me entristece é ver que o custo de capitação ficou praticamente estável no mesmo período. Nem a justificativa mais rasa de todas, a de que “o crédito ficou mais caro porque estamos pagando mais para conseguir o dinheiro“, pode ser usada. É puramente a oportunidade (22% da população está desempregada) e a falta de uma política de proteção contra o calote sendo adotadas.
Até quando ? 🙁
Leia a reportagem abaixo e deixe seu comentário para ampliarmos o debate.
Margem dos bancos com crédito cresce 60% em 2 anos e BC pede redução
O diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, Isaac Sidney, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que os bancos precisam diminuir a diferença entre as taxas que cobram nos empréstimos e a que pagam na captação dos recursos, o chamado spread bancário. “Precisamos reduzir o custo do spread bancário ao cidadão, para o Estado, para o País e as instituições financeiras poderem dar sua parcela de contribuição.”
Dados do Banco Central mostram que, em pouco menos de dois anos, o spread bancário subiu 15,40 pontos porcentuais. Em dezembro de 2014, os bancos captavam dinheiro a uma taxa média de 12% ao ano e emprestavam a 37,3%. Em agosto deste ano, o custo da captação mal tinha se mexido – estava em 12,3% ao ano -, mas os empréstimos chegaram a 53%. Ou seja, o spread passou de 25,3 para 40,7 pontos porcentuais, uma alta de 60%. O movimento ocorreu a despeito de a Selic (a taxa básica de juros) ter subido muito menos no período, de 11,75% para 14,25% ao ano.
Segundo Sidney, o caminho a ser seguido passa por uma nova política entre bancos e clientes que privilegie o relacionamento de longo prazo. “A variedade de tarifas bancárias e seus valores, muitas vezes excessivos, precisam ser substituídos por relações sustentáveis, de longo prazo”, afirmou.
O professor Ricardo Rocha, do Advance Program in Finance do Insper, afirma que o spread subiu porque, com a crise, os bancos “decidiram se defender”. “Com a Selic alta e num ambiente de crise, eles enxergaram que o risco de conceder crédito ficou maior. Ninguém quer dar dinheiro aos piores tomadores, então todo mundo sobe as taxas”, disse.
Concentração
Outro problema é que, no Brasil, o setor bancário é concentrado. Rocha lembra que apenas cinco bancos são responsáveis por cerca de 80% das operações de crédito e, em função da baixa concorrência, a redução do spread é dificultada. “Se olhar pela lógica do banqueiro, ele faz maiores provisões porque hoje há muita empresa em recuperação judicial. A lógica é que, quando você tem uma baixa concorrência na oferta de crédito, alguém vai pagar a conta pelos que não pagam”, diz Rocha.
Essa situação vem se intensificando em 2016. Em meio à crise no Brasil e às dificuldades das economias também no exterior, a operação local do banco HSBC foi vendida ao Bradesco e, mais recentemente, o varejo do Citibank foi comprado pelo Itaú Unibanco. O mercado de crédito ficou ainda mais concentrado.
A questão do spread bancário faz parte de um dos “pilares da agenda do Banco Central”, conforme afirmou no início de outubro o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, a senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Na ocasião, o spread chegou a ser qualificado como “jabuticaba brasileira” pelo senador Armando Monteiro (PTB-PE). “Não é à força que vamos reduzir o spread bancário; há várias questões de médio e longo prazo”, respondeu Goldfajn na ocasião.
Em 2012, quando a Selic atingiu o menor patamar da história, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega fez pressão para que os bancos reduzissem os spreads. O movimento até ocorreu na prática, mas teve uma curta duração.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que não comenta sobre juros, spread e temas da conjuntura econômica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.