O aumento (velado) da participação do controlador na recompra de Ações …
Em um “longínquo” 2023, tivemos um anúncio da Petrobras que chamou (e animou) bastante o Mercado: a empresa colocaria em ação um programa de recompra de suas ações. Com a duração máxima de 1 ano, o programa se destinava à recompra de 157,8 milhões de ações preferenciais, perto de 3,5% do free float.
O destino destas ações ? Iriam para a tesouraria, com posterior cancelamento.
Entendeu o motivo da alegria da galera ? Pressão compradora na veia. E como você bem já sabe, são as leis de mercado (oferta e demanda) que determinam o preço de uma ação. 😉
Portanto, se não houver pressão de venda no momento, o aumento da demanda (a própria empresa comprando), faria com que os preços subissem. E num cenário mais complicado, com os vendedores se desfazendo de suas posições, haveria alguém “raspando o tacho”. Sim, evitando que os preços derretessem.
E adivinha o que foi que aconteceu …
Isso: o papel se comportou maravilhosamente bem no período.
Não apenas por isso. É claro … Mas com esse apoio “extra”. 🙄
Ok. Acionistas da empresa estariam sendo beneficiados neste momento. Ações em alta, patrimônio crescendo. Não é mesmo ? 😉
Agora … quem também estaria se beneficiando, e passou praticamente desapercebido ? (poucos ousaram tocar no assunto)
Pois bem, o período do programa encerrou em meados de 2024 e as PETR4 se comportaram muito bem, obrigado. Até cogitaram uma ampliação/renovação do programa. (por que será ?)
Corta para 2025.
Lembra qual seria o destino das ações vindas da recompra ? O cancelamento. E foi isso que a empresa divulgou há alguns dias.
Agora, lembra qual é o título deste texto ? “O aumento (velado) da participação do controlador na recompra de Ações …”
Pois então … Sim, o “maior” beneficiado com este programa de recompra foi a União Federal. 🙄
E não, não apenas por poder dizer que as ações da empresa se valorizaram no período. A União colheu benefícios DIRETOS da recompra. E tudo isso sem “gastar um único centavo”. (com aspas, muiiitas aspas …)
O efeito DIRETO da recompra, para a União, foi que ela apresentou um aumento de participação na empresa. Ela que já era a controladora, aumentou seu poder sobre a empresa. Não, nada de exagerado … Mas aumentou. Pouco mais de 1% para falar a verdade:
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(fonte: https://www.investidorpetrobras.com.br/visao-geral/composicao-acionaria)
Antes do programa de recompra, a União possuía 36,6% do Capital Social da Petrobras. Após recompra, e do cancelamento das ações preferenciais (lembre-se, a recompra ocorreu apenas em PETR4), passou a deter 37,1% da companhia. ~1,37% de aumento, para ser mais exato …
“Ah, Zé … Para de teoria da conspiração !!”
Não é teoria. É realidade. É constatação.
E olha que eu falava que era isso que ocorreria, desde o início do programa. Desde que anunciaram que fariam a recompra, falei que na verdade teríamos o aumento (velado) da participação acionária do governo federal na empresa. E como já falei antes, poucos foram os que abordaram tal tema.
Como eu provava que isso ocorreria, antes de realmente ocorrer ? Fácil, dava um exemplo simples:
– Uma empresa tem 2 grandes sócios e outras dezenas de pequenos investidores. O controlador possui 80% das ações, o outro grande, 10%, e os minoritários os outros 10%. A empresa faz um anúncio, informando que recomprariam até 10% do total de ações. A notícia é bem aceita pelo Mercado, que puxa o preço, em forte alta. Digamos que todos os minoritários se empolgam e decidem zerar suas posições naquele momento, aproveitando a recuperação das ações que vinham se comportando de forma “estranha”.
Após o programa ser concluído, o sócio A possui 800 ações, o B, 100, e a tesouraria mantém as 100 que comprou no Mercado, dos minoritários. Um total de 1.000 ações. Correto ?
Passado algum tempo, a tesouraria anuncia o cancelamento das ações em sua posse. Desta forma o sócio A possui 800 ações, de um total de 900, e o B, 100. A passa a ter 88,89% da empresa, e o B, 11,11%.
Ao anunciar o programa, A e B sabiam que não venderiam suas ações. Apenas os minoritários poderiam vender. No final, já sabiam que teriam um aumento na participação. Independente do cenário … Pois eles não venderiam as suas.
E não foi exatamente o que ocorreu com a Petrobras ?
“Mas foi tão pouco ! …”
Foi. Mas lembra que houve o interesse por uma renovação/ampliação do programa ?
O que impediria o sócio controlador de dar continuidade, e fazer mais algumas rodadas “pequenas” ? Umas 4 ou 5 desta e ele conseguiria ampliar sua fatia da empresa em uns 10%. “Sem colocar um centavo” no negócio.
O por quê das aspas ? Simples: ele usou. 🙁
O dinheiro usado na recompra, pela Petrobras, poderia ter sido distribuído aos sócios. Na forma de dividendos ou JCP. Sendo a União um dos maiores sócios, uma parcela gorda do valor a ser distribuído seria dela. E esta grana poderia ser usada em tantas coisas … tantos programas sociais … 🙄
Mas tudo bem. Ao menos fico feliz em saber que estado é um bom administrador, e que as estatais têm apresentado resultados bem robustos. 🙂
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